sexta-feira, 25 de março de 2005

Pudor

Causa-me a maior das perplexidades uma filiação política antes dos 40 anos. Vá lá, antes dos 25. Situações como a de José Sócrates são fáceis de explicar: estávamos nos seventies e afinal o PSD não era de esquerda. Mas o que dizer dos jovens (pessoa com menos de 40 anos) que, por sua livre iniciativa, se comprometem com uma ideologia, e pior, que se comprometem com os colegas de cartão? Há, em todos os partidos políticos com assento parlamentar, gente suficiente para me deixar mais envergonhado do que se fosse apanhado nu no metro à hora de ponta, o que só por si é garante de segurança face a um qualquer devaneio cívico. Vivo aterrado com o passado que estou a construir. Acordo com suores frios quando penso na hipótese de, já de bengala e cabelo grisalho (o que não falta muito, não a bengala mas o cabelo grisalho) ser abordado por alguém (uma sexagenária boazona, por exemplo) que me diz «você é aquele tipo que se passeou nu pela estação da Alameda no Verão de 2008, não é?» Talvez seja um processo semelhante àquela atitude de voltar atrás para verificar se a porta do carro está mesmo fechada, mas não há dia em que não faça o elevador regressar ao quinto andar só para verificar, ao espelho, que não me esqueci das cuecas.