terça-feira, 28 de junho de 2005

Follow the leader

Nas discussões entre católicos chega sempre e inevitavelmente o momento em que alguém excumunga o seu interlocutor. Perante a impossibilidade de ambas as perspectivas serem admissíveis, aquele que defende a situação mais parecida com o discurso oficial da hierarquia dá a conversa por terminada invocando ser apenas porta-voz daquilo que é certo e que está escrito. Já aconteceu comigo várias vezes. Na base desta intolerância está um ressentimento de quem não consegue moldar a sociedade à sua imagem e precisa de sentir um grupo unido, dê por onde der, para enfrentar o exterior agressivo. E por isso é que os membros da própria classe, os próprios católicos, são muitas vezes o alvo escolhido (ver o exemplo do anúncio público do padre Serras Pereira onde ameaçava recusar a comunhão aos católicos que estivessem em pecado, no caso pecados relativos ao comportamento sexual dos fiéis). Aqueles que escolhem ser absolutamente seguidores das tomadas de posição do Vaticano não admitem outro modo de estar na Igreja que não seja esse, que de certa maneira é uma atitude de combate. Sentem-se traídos por quem partilha a sua fé mas não comunga das suas opções morais, especialmente na área sexual. A dinâmica de grupo tem aqui um papel muito forte. Como em qualquer grupo minoritário tem de existir um elemento agregador que represente uma dimensão sobre-humana capaz de transformar a falta de número em força. Nos católicos mais fundamentalistas essa figura tem sido, não Cristo, mas o Papa. Por uma razão muito simples: as palavras de Jesus são demasiado ambíguas (as parábolas) para servirem de arma de arremesso, enquanto que as cartas e encíclicas papais são bastante mais normativas. Por isso é que «os teológos e mesmo os santos andam a discutir tudo e mais alguma coisa (por vezes com grande violência) há vinte séculos». Foi este ambiente que se tem vindo a gerar dentro da Igreja Católica (e aqui não falo no Vaticano) que fez com que muitos ficassem desiludidos (incluindo eu) com a eleição de Ratzinger, ele que foi durante as duas últimas décadas a principal origem de uma moral dura e conservadora («exigente», nas palavras de quem a segue) estruturada num conjunto de textos muito coerentes. Acima de tudo foi um sinal, uma orientação, uma vitória daqueles que formam a task force mais purista. É por isso que ando angustiado, angústia essa que não pode durar muito tempo.

O que eu quis dizer é que César das Neves não está sozinho. Longe disso.