terça-feira, 14 de junho de 2005

Ser consequente

Há um valor acrescentado que a arquitectura deve ambicionar. O depois tem, obrigatoriamente, de ser melhor que o antes. É por isto que a arquitectura nunca é só a resolução de um problema funcional e construtivo de um determinado empreendimento que se rege por um programa. A envolvente deve beneficiar da intervenção. Se quisermos, a boa arquitectura gera mais-valias. Ganhos indirectos. Quanto a maestria é atingida fica a sensação que o edifício sempre ali deveria ter estado. O Siza consegue isso, e é talvez por isso que o Siza é o Siza. O Souto Moura também. Mas enquanto o Siza consegue-o através de uma sensibilidade poética que, estranhamente, se assume como essencial, Souto Moura chega lá através da exactidão da economia de meios. Não é fácil, mas ninguém disse que era. Para trás (na memória) ficam as obras inconsequentes. Os gestos frívolos que aparecem nas revistas. Chego de Graz e Graz tem muito disso. Senti-me bem ao conseguir explicar o que sentia pertante aquela arquitectura levemente apelativa. No fundo não transforma nada. É um discurso algo autista. Falta-lhe peso, no sentido literal também. Não é preciso que andemos todos a tentar entreter o parceiro. As coisas só precisam de ser bem feitas. Com cimento e pensamento (TM), claro. Com mais consequência e menos aparato. Acho que estou a ficar velho.