terça-feira, 11 de março de 2008

Help me

Devido a uma proximidade geográfica sem explicação aparente, partilho o café da esquina com uma turba de estudantes de um daqueles externatos cujo enquadramento legal nunca cheguei a perceber. Pelo que sei, é onde os estudantes do secundário que não têm média suficiente para ingressar no ensino superior se dirigem para «obter» uns pontos extra em duas ou três disciplinas específicas, resultados que geralmente se associam às contas bancárias dos encarregados de «educação». Volta não volta os meninos têm testes e aparecem (fumam todos e sentam-se ao colo uns dos outros). Juntam-se no café após o acto, discutindo as respectivas prestações, e uma ou outra conversa apanhada do ar deixa uma clara sensação de que estamos perante pessoas que não se sentem muito confortáveis na utilização do órgão que habita a caixa craniana, apesar de exteriorizarem uma certa predisposição para a utilização de outro tipo de órgãos. Ora, o que me espanta é o facto deles (delas, sobretudo) serem mais bonitos do que a média da população daquela faixa etária: é raro ver-se por ali uma miúda feia. Tem dias em que me sinto num casting dos Morangos com Açúcar e me arrependo por não ter sido nesse dia que venci o preconceito e dei uso ao gel capilar que simpaticamente descansa no meu armário da casa de banho desde a minha despedida de solteiro. Esta sobreposição estatística de beleza física e falta de aptidão intelectual é um fenómeno que, como pessoa invulgarmente bonita que sou, me preocupa e assusta. Tento perceber o fenómeno, encontrar uma explicação, encontrar uma saída para as minhas inquietações, mas invariavelmente o resultado é o insucesso: será que é por ser bonito que sou burro? Ou será que é por ser burro que fui recompensado com uma compleição física de raro apuro estético? É esta correlação que me anda a lixar a vida? Será Deus assim tão justo? Alguém? Um fórum? Uma linha telefónica de ajuda?