sexta-feira, 28 de março de 2008

«Não é possível ser-se bom sem se ser, ao mesmo tempo, mau. Não há Zidane sem cabeçada no italiano, nem Roma sem trânsito, nem Bárbara sem Carrilho.»

Ando há demasiado tempo demasiado chocado com a demasiada ignorância que a blogosfera tem aplicado ao blogue do Lourenço Viegas.

Reconheço que pode haver aqui uma identificação biográfica que tem origem no nome próprio com que as nossas mães decidiram carimbar (infligir, melhor) os respectivos filhos. Não que eu me sinta reconfortado cada vez que me deparo com um homónimo - aliás, esses acontecimentos infelizes costumam provocar-me uma reacção, digamos, oposta, mas isso levar-nos-ia a toda uma explanação de cicatrizes auto-biográficas que não têm cabimento aqui - mas porque o Lourenço Viegas revela na curtíssima apresentação que disponibiliza lá no blogue um dado importante: a razão da sua maleita parece ser a mesma da minha. Viegas nasceu em Lourenço Marques, há 54 anos, e não posso deixar de converter essa aparente coincidência toponímica num dado decisivo no registo da sua identidade: Viegas chamar-se-à Lourenço porque nasceu em Lourenço Marques, uma cidade que é conhecida por ter deixado muitas saudades aos colonos que por lá passaram. Ora, eu não nasci em Lourenço Marques mas - mas - nasceu a minha mãe. Cresci a ouvir essa atenuante, que eu me chamo assim porque Lourenço Marques - e ai do comensal que se refira àquela cidade como Maputo - se chama Lourenço Marques. Reconheço que a importância que a veracidade desta causalidade tem no meu bem estar psíquico poderá ter-me toldado o juízo histórico e que talvez as coisas não se passem totalmente assim - é também verdade que uma das minhas bisavós viveu uma paixão eterna por um tal de Lourenço que não foi capaz de lhe conquistar o altar por motivos técnico-financeiros - mas vamos acreditar que sim. Assim sendo, há aqui um padrão: os Lourenços que têm o infortúnio de assim se chamar por causa da cidade moçambicana são pessoas com inegáveis talentos literários, e isto é uma conclusão a que eu gostava que todos nós aqui presentes hoje pudéssemos chegar.