«Tenho cada vez menos tolerância com este tipo de exercícios. E a diminuição da tolerância pode passar rapidamente a alergia quando nos lembramos que muitos dos que se derretem numa poça de baba com estas imagens (que, na essência, não se distinguem dos clipezinhos sobre a ignorância geográfica dos americanos) são os mesmos que depois fazem uma carreira inteira a dizer que o islão fundamentalista, intolerante e terrorista não é o verdadeiro islão, que as imagens de palestinianos a festejar na rua a queda das Torres Gémeas não é o verdadeiro palestiniano, ou que o cigano negociante de droga não é o verdadeiro cigano. É estranho: o esforço do contexto e da nuance desaparece por altura da Ellis Island. Chegados aí, "a América de Palin" pode ser inteiramente representada pelo traço grosso do preconceito, da colagem cinematográfica de exemplos e da generalização psicológica bruta (nem se dando ao trabalho de tentar a distinção entre quem vota Palin, ou quem principalmente 'não vota Obama', da própria Palin), formando um conjunto que vou tenho cada vez mais dificuldade em distinguir da xenofobia. Não percebo nada de história da América, mas sei o suficiente para poder dizer que a América de hoje, a mesma que provavelmente e se deus quiser vai eleger Obama, não foi feita contra a "américa de Palin", mas sim e especificamente com "a América de Palin", podendo dar-se mesmo o caso de que alguns dos aspectos mais bonitos da América tenham nascido pela mão da "américa de Palin".»
maradona