quarta-feira, 29 de outubro de 2008
Dubaya
O problema de W. é corresponder tão explicitamente à visão que tanta gente quer ter de George W. Bush e de não lhe acrescentar nada. Formalmente, aquele meio-tom que adopta, de sátira mas não tanto assim, falha porque não se percebe o objectivo. Como sátira é fraco, não arrisca quase nada e não tem assim tanta graça. A primeira cena, que mostra a discussão na sala oval que levou à expressão «eixo do mal», é particularmente infeliz ao assemelhar-se a um mau sketch de Saturday Night Live: as personagens são apenas caricaturas inconsequentes, com alguns altos e baixos, é certo, mas até essa irregularidade mostra como a sátira não foi levada a sério: os «maus» (Rumsfeld, Karl Rove e Cheeney) são relativamente bidimensionais; os «bons» (Powell) são relativamente poupados e aparentam ter uma espinha dorsal. Se quisermos, podemos comparar W. a um exercício aparentemente semelhante - uma sátira a um presidente ainda em exercício - que é Our Gang, de Phillip Roth, para percebermos o que W. poderia ter sido e não é. E a questão não é a suposta meiguice que Oliver Stone terá revelado para com Bush: W. é tudo menos meigo ou imparcial, como irracionalmente alguns críticos apontaram. W. apresenta Bush como a personagem que todos nós já construímos na nossa cabeça e fá-lo com um sucesso discutível, num exercício estilisticamente medíocre. E é cínico. Porque parece insinuar que só não foi mais longe porque quis ser bem educado. É um aluno que não faz o trabalho de casa e que se apresenta perante o professor a dizer que a culpa foi do cão.