domingo, 12 de outubro de 2008
O derrotado da vida
Tentei, tentei, tentei, mas aquela atitude «Pilar, sabes, já não há humanistas como eu e o Gabo» exasperou-me. A história do meu atrito com Saramago ainda está por resolver e tem-se manifestado sobretudo nas entrevistas. Eu, que gosto de entrevistas a escritores mesmo quando nunca lhes li nada de significativo, deprimo-me com as de Saramago, sempre tão previsíveis naquilo que é a sua maneira de olhar o mundo, jogando sempre naquele campeonato que só interessa aos comunistas, da «coerência», como se a coerência fosse uma virtude per se, como se «ser comunista» fosse uma virtude. Não há nada que me aproxime de Saramago, e Saramago não tem um milímetro de charme que possa seduzir alguém que não frequenta a Soeiro Pereira Gomes. É, sobretudo, e isto é o pecado capital para alguém que se quer ficcionista, um homem sem imaginação, um derrotado da vida que é derrotado isoladamente, não como os outros que eram vencidos mas em manada, sempre tinha mais graça. Eu gostava de gostar de Saramago mas já desisti de tentar. Para compensar, vou comprar o Público que enviou Anabela Mota Ribeiro falar com Lobo Antunes. Porque com Lobo Antunes nunca falha, é o meu autor de respostas a entrevistas favorito (um homem que contou como a guerra de África parava aos domingos para ouvir o Benfica merece tudo, tudo de bom.)