quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Mas é preciso ser o Miguel Poiares Maduro a vir explicar tudo?


por Miguel Poiares Maduro

«O ruido ideológico faz-me voltar à questão relativa às culpas e diferença entre Estado e mercado no contexto da actual crise financeira. Desta vez, no entanto, para defender o mercado. É que a narrativa da crise tem apenas acentuado as culpas do mercado, talvez como instrumento de um combate ideológico masi alargado. Mas temo que tal apenas confunda de novo ideologia com Estado e mercado (sei que este é um combate perdido mas não desisto).
Acontece que muitos se esquecem que as duas primeiras instituições que estiveram na origem desta crise (Fannie May and Freddy Mac) eram agências federais americanas, entidades públicas encarregues de facilitar a concessão de crédito à habitação. Foi, igualmente, o Congresso americano que insistiu que estas instituições financiassem muitos dos créditos de mais elevado risco de forma a fomentar uma política de habitação (como lembrou recentemente o ex-Presidente Clinton). Isto não quer dizer que a responsabilidade seja do Estado. Lembro isto apenas para reforçar que o problema fundamental na origem desta crise é a inexistência de qualquer relação entre a tomada de risco e a responsabilidade pelo mesmo. Mas isso passou-se tanto no mercado como no Estado e não tem primordialmente a a ver com Estados liberais, socialistas ou sociais-democratas (basta recordar que nos anos 90 a Suécia passou por um colapso idêntico do seu sistema financeiro: não creio que a Suécia seja um exemplo de neo-liberalismo…).»

(Ando nesta coisa dos blogues há muito, muito tempo, e deixem-me que vos diga que há muito, muito tempo que não via um post com um racio de frases pertinentes / frases dispensáveis tão alto como este - tende para o infinito - e que ainda por cima se cola exactamente àquilo que eu ando a pensar desta história toda mas sem saber (eu sabia que era qualquer coisa deste género, mas não sabia que era exactamente isto que o Miguel Poiares Maduro escreveu porque o Miguel Poiares Maduro ainda não o tinha escrito), que me devolve a esperança na espécie humana, incluindo a malta que anda para aí a construir as cruzes em madeira para a crucificação do Capitalismo e do Mercado e do Bush - já estou a ver a cena toda: antes da cerimónia, Pôncio Pilatos pergunta à multidão enquanto lava as mãos: Quem querem que liberte, o Capitalismo ou Bush?, e a população, vermelha de raiva e sedenta de vingança, grita em uníssono: BUSH!, BUSH!, LIBERTA BUSH!)