quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Mêlée

Quando calha acordar bem disposto e optimista sobre a espécie humana* - aconteceu todos os dias até à idade da consciência e outra vez em 1993 - esse sentimento tem a infelicidade de provar apenas algumas horas de vida. Sobrevive exactamente até ao momento de entrada na carruagem do Metro, onde, sem motivo aparente, sou empurrado, pisado, carga-de-ombrado, ensanduichado, à bruta. Não sei o que se passa com os outros, apesar de saber que são o inferno, para que dia após dia insistam neste tipo de conduta totalmente incivilizada. Tentei descobrir um objectivo, um incentivo que levasse aquela gente toda a tratar a entrada e saída da carruagem como uma mêlée**, mas ou eu sou muito pouco perspicaz ou a coisa foge ao meu entendimento. Caro empurrador dos outros à entrada do metro: se estás a ler isto, para com isso.

* Num momento de pré-consciência, quando já não estamos a dormir mas ainda não estamos acordados, a «humanidade» apresenta-se aos meus olhos reduzida a um único exemplar, a minha mulher, e esse dado pode levar a que seja cometida essa imprudência.

** «Melee (from the French mêlée IPA: [meˈleː]) generally refers to disorganized close combat involving a group of fighters. A melee ensues when groups become locked together in combat with no regard to group tactics or fighting as an organized unit; each participant fights as an individual.»