terça-feira, 28 de outubro de 2008
Performance anxiety
Começo a ser perito em comentar assuntos que desconheço quase por completo com base apenas na observação - astuta, quase sempre - dos efeitos que essas questões provocam no meio ambiente e social - como o maradona, por exemplo, que não precisa de ver os jogos do Sporting para lhes adivinhar o andamento (e aqui há que dignificar o nome do post do maradona, «Marcelo Rebelo», porque é importante exteriorizar que percebemos a referência: maradona cita Marcelo Rebelo de Sousa como exemplo de comentário sem rede, eu cito o maradona, etc, tudo está na ordem certa.) Como é evidente, este post serve para comentar o mais recente post de Rogério Casanova, datado de 28 de Outubro, que precede o anterior, datado de 08 de Outubro, ficando nítido aos nossos olhos quando visto em contra-luz, e após ser banhado com sumo de limão, um hiatus temporal entre os dois posts de, aproximadamente, 20 dias. Eu não queria estar aqui a precipitar-me em conclusões infundadas, portanto vou socorrer-me de provas materiais que mostrarão, beyond reasonable doubt, que Casanova está a sofrer, talvez devido a um processo de mimetismo involuntário, de um mal semelhante ao que Casanova acusa Wood de sofrer:
«(...) O que me parece é que Wood terá sucumbido à maldição do crítico: a pressão da coerência. A partir do momento em que uma série de argumentos justíssimos contra um tipo de excesso recorrente cristaliza numa teoria estética, o crítico vê quase sempre, paradoxalmente, o seu leque de ferramentas reduzido, pois depara-se com a necessidade de deformar as suas análises futuras para que coincidam com o novo ângulo de visão.(...)»
Longe de mim acusar Casanova de «coerência», e portanto deixo claro que não é a coerência que está a pesar sobre os ombros de Casanova, mas antes a performance. O que Casanova tem feito desde Julho de 2006 é semelhante ao que Federer fez no ténis: elevou esta merda para outro patamar, um patamar relativamente inacessível para o resto de nós., e agora, depois de se ter apercebido dessa mudança de paradigma operada pelo próprio, começou a intervalar os seus textos em períodos que começaram a exceder o razoável, de forma a permitir ao texto sofrer as iterações necessárias até atingir o estado de apuramento desejado. Ora, tal como acontece com, por exemplo, a Rondanini Pietà, que deixou um braço solto ali caído, também o presente texto de Casanova apresenta um pormenor que deixa antever um longo período de gestação do mesmo: o facto de, inexplicavelmente, Casanova não fazer referência a este texto de James Wood. Como é possível dizer-se que «(...) James Wood (...) tem andando em campanha eleitoral nos últimos dias» e não citar o texto que o mesmo dedicou a Saramago? Eu avanço com a resposta: o texto de Wood data de 27 de Outubro, apenas um dia antes do deadline que Casanova tinha para entregar o seu post aos engenheiros do blogger, e portanto não houve tempo para refazer o equilíbrio da estrutura argumentativa do post, que andava a ser esculpido há, pelo menos, 15 dias. Não quero com isto emitir juízos de moral, mas achei importante alertar a população para o facto de se ter tornado evidente que este senhor sofre de performance anxiety. Esta é a minha teoria, porque ainda não estou preparado para admitir que coisas destas se escrevem entre a leitura do Record e a consulta das cotações da maionese nos mercados internacionais.