Sem tempo, melhor, organização, que me permita a mais, deixo, em jeito de «Bom Natal» geral, um texto escrito no ano passado, escrito sobre esta imagem, que me parece adequado dado o frenesim laico de não agressão inter-religiosa que põe toda a gente a falar de solstícios. Bom Natal.
(...) Teologicamente desfasado com o calendário, este quadro de Mantegna é no entanto exageradamente táctil. Apresenta-nos um corpo deitado, inerte. Um homem morto que é chorado por duas pessoas, um homem e uma mulher, que em nada se anunciam como Maria e S. João. A importância dada ao corpo é invocada pela perspectiva que, ao dificultar o trabalho da proporção na definição do corpo humano, prende-nos nos pormenores que nos surpreendem (e terão surpreendido muito mais em 1480). A invulgaridade desta pessoa é-nos sugerida pela sua boa forma física: em todos os aspectos é um corpo quase ideal que aqui vemos. Se excluíssemos as chagas e o contexto, veríamos uma imagem da finidade humana, da sua extrema e imprevisível fragilidade, da morte como fim natural de todos nós. Não é um velho ou um doente que morre mas um homem no auge da sua vida. E é ao acentuar os ossos e a carne de Cristo, bem como a relativa indiferença com que representa o choro de Maria e S. João, que Mantegna nos assola com o choque do real e retira Cristo da distância institucional que a sua condição muitas vezes cria. Esta dimensão irreal de Cristo é acentuada no Natal, onde o homem é passado a menino. O Natal celebra quase um acontecimento abstracto e utópico, um ideal de amor humano que encontra na criança a metáfora perfeita. Mas o Natal é o nascimento de um homem que, apesar de dividir todos os outros acerca da sua condição divina, mudou o mundo. Não sei se isso é o suficiente para o deificar, mas sei que é o suficiente para o recordar. Ano a ano, no Natal. E o resto é palha.
a 27 de Dezembro do ano passado
sexta-feira, 22 de dezembro de 2006
quinta-feira, 21 de dezembro de 2006
Em revista
Quero, já agora, também dar os meus prémios blogosféricos 2006. É muito simples:
Prémio Melhor Blogue: Diário
Prémio Melhor Blogue: A Causa Foi Modificada
Não, não é uma gralha. É um ex aequo. Para o ano há mais.
Prémio Melhor Blogue: Diário
Prémio Melhor Blogue: A Causa Foi Modificada
Não, não é uma gralha. É um ex aequo. Para o ano há mais.
Regresso, enfim
Só por distracção não tinha percebido que o Vasco Barreto agora escreve no Caderno I. Não percebo, o Memória Inventada era melhor em tudo (o suporte, não o conteúdo), mas cada um faz o que quer à sua vida. Há, inclusivamente, uns que se casam. Só para termos uma noção.
Há verdades que têm de ser ditas
O Tiago Cavaco tem mau gosto para sapatos. Redime-o o facto de o assumir implicitamente, ao revelar, sempre e sem excepção, o preço do que vai comprando, como que a dizer «mas foram baratos». A evangelização não vem bem calçada.
segunda-feira, 18 de dezembro de 2006
To be great is to be misunderstood
Este livro, para além de ser a coisa mais interessante que comprei em lojas de museus (na do Guggenheim, fotos do edifício descascado para obras em breve, me aguardem), é muito instrutivo. Por exemplo, acabo de descobrir que o primeiro emprego que Frank Lloyd Wright conseguiu, após uma semana em Chicago a bater à porta de ateliers, foi através de uma cunha (apesar de na sua autobiografia dar uma versão diferente do acontecimento, o que só dá mais graça ao facto.)
sexta-feira, 15 de dezembro de 2006
Merda
Já passa das seis da tarde e acabo de descobrir que o José Mário Silva entrevista o Miguel Esteves Cardoso na edição de hoje do DN. Ainda haverá quiosques abertos?
terça-feira, 12 de dezembro de 2006
Something old
Mudar de blogue depois do casamento seria dar demasiada importância à coisa (o blogue).
Contudo haverá novidades. Por enquanto fica tudo a passo de caracol, mas estamos de volta.
Contudo haverá novidades. Por enquanto fica tudo a passo de caracol, mas estamos de volta.
quarta-feira, 25 de outubro de 2006
Something new
Amanhã começa o meu último mês como solteiro.
A actividade deste blogue fica suspensa por aí. Voltarei na minha próxima vida, não sei se aqui, se noutro sítio. Ideias não faltam. Até logo.
A actividade deste blogue fica suspensa por aí. Voltarei na minha próxima vida, não sei se aqui, se noutro sítio. Ideias não faltam. Até logo.
terça-feira, 24 de outubro de 2006
A maçã e a bandeira
Acho que o facto de não haver mais jovens a ler a Bíblia se deve ao desconhecimento de certos e determinados textos, recolhidos no âmago do Antigo Testamento. É, no fundo, uma questão de falha de comunicação.
Tal como a macieira entre as árvores da floresta
é o meu amado entre os jovens.
Anseio sentar-me à sua sombra,
que o seu fruto é doce na minha boca.
Leve-me para a sala do banquete,
e se erga diante de mim a sua bandeira de amor.
Sustentem-me com bolos de passas,
fortaleçam-me com maçãs,
porque eu desfaleço de amor.
Por baixo da minha cabeça Ele põe a mão esquerda
e abraça-me a sua mão direita.
Eu vos conjuro, mulheres de Jerusalém,
pelas gazelas ou pelas corças do monte:
não desperteis nem perturbeis
o meu amor, até que ele queira.
Cântico dos Cânticos 2, 3-7
Tal como a macieira entre as árvores da floresta
é o meu amado entre os jovens.
Anseio sentar-me à sua sombra,
que o seu fruto é doce na minha boca.
Leve-me para a sala do banquete,
e se erga diante de mim a sua bandeira de amor.
Sustentem-me com bolos de passas,
fortaleçam-me com maçãs,
porque eu desfaleço de amor.
Por baixo da minha cabeça Ele põe a mão esquerda
e abraça-me a sua mão direita.
Eu vos conjuro, mulheres de Jerusalém,
pelas gazelas ou pelas corças do monte:
não desperteis nem perturbeis
o meu amor, até que ele queira.
Cântico dos Cânticos 2, 3-7
segunda-feira, 23 de outubro de 2006
Linques
Entretanto, através do blogue da Revista Atlântico (memo: actualizar lista de links) descubro o blogue do não, blogue de campanha contra o aborto, onde escreve o há muito desaparecido João Noronha. O Valete Frates é do tempo em que a blogosfera era mais ou menos um clube privado, e agora o João anda de Fiat Lux. Quanto ao blogue do não, passará a ser leitura diária, ou não apresentasse um casting de luxo (outra das faltas imperdoáveis da lista de links é a ausência do Portugal dos Pequeninos, do João Gonçalves, que há muito leio religiosamente.)
Economia de mercado
Uma televisão privada a fazer aquilo que o Estado devia fazer:
A SIC inicia a divulgação do primeiro estudo comparativo dos últimos seis anos de exames nacionais de 12º ano e chega a algumas conclusões preocupantes. Entre as 100 melhores médias dos últimos seis anos, só aparecem oito escolas do interior. O Jornal da Noite vai mostrar-lhe o ranking dos últimos seis anos e contar-lhe quais as escolas que mais subiram e desceram desde 2001. Os resultados estarão também na SIC Online, a partir das 20h00.
A SIC inicia a divulgação do primeiro estudo comparativo dos últimos seis anos de exames nacionais de 12º ano e chega a algumas conclusões preocupantes. Entre as 100 melhores médias dos últimos seis anos, só aparecem oito escolas do interior. O Jornal da Noite vai mostrar-lhe o ranking dos últimos seis anos e contar-lhe quais as escolas que mais subiram e desceram desde 2001. Os resultados estarão também na SIC Online, a partir das 20h00.
domingo, 22 de outubro de 2006
Grandes encontros
E aí está o que muitos esperavam: João César das Neves e Pedro Mexia juntos em livro.
sábado, 21 de outubro de 2006
sexta-feira, 20 de outubro de 2006
Metabloguismo
O maradona às vezes irrita-me. Irrita-me que eu tenha pensado em fazer referência ao artigo de ontem do Pacheco Pereira e que o maradona se tenha antecipado. Irrita-me que, no textinho que vêem aqui em baixo, me tenha passado pela cabeça referir precisamente esse pormenor que é o facto de eu, sim, condenar moralmente quem faz um aborto e, sim, ir votar sim e querer que o Estado canalize recursos sim senhora, e não o tenha feito por achar que ia ficar mal explicado, aparecendo-me agora o maradona a dizer precisamente o mesmo e muito bem dito:
(...) A frase, por exemplo, "Não me sinto com o direito de julgar moralmente as atitudes de quem decide em consciência interromper uma gravidez.". Eu por acaso sinto-me. A moral tem muitas vantagens e, aliás, quando é practicada em condições, julga precisamente a "consciência" das outras pessoas.
Há aqui onde moro uma miúda que durante 5 anos foi duas vezes por ano a uma certa e determinada senhora na Cova da Piedade. Eu acho que tenho o direito de julgar moralmente esta miúda, a sua familia e o comboio de namorados. No Algarve tinham que ir a Espanha, numa Ford Transit, e dentro da Ford Transit iam mulheres e familias a quem eu condenava moralmente o que andavam a fazer, e outras mulheres e familias que eu não condenava moralmente.
Mas daqui a colocar em questão a canalização dos "escassos recursos para a prática de abortos" vai uma grande distância. Acho que se deve "canalizar" sim senhora. Modesta e à parte, eu vejo "recursos" em todo o lado; e se não forem assim tantos como eu vejo, que se aumente os impostos, que se corte nas SCUTs, nos professores do ensino secundário, nos subsidios à RTP e à TAP, nas operações às varizes, onde quiserem, não percebo nada dessas merdas. Não se pode é obrigar as pessoas - onde, como sempre nestas coisas, predominam os mais pobres, os mais fracos e os mais sós - a arriscar a saúde e a vida por causa, primeiro, de uma lei estúpida, segundo, por causa de "escassos recursos".
O facto de eu condenar moralmente esta e muitas outras pessoas (e de não condenar muitas outras) não significa que ache aceitável que se atire milhares de mulheres e homens para fora do sistema nacional de saúde. A moral - ao contrário da ética - vem depois da saúde, quer-me parecer. Não percebo, portanto, esta conversa toda à volta da "consciência" e mais não sei o quê.
Também quero fazer um apontamento em relação ao "sequestro" do debate pelo "trogloditismo extremista". É que dá a sensação que é só a Esquerda a responsável por essa tendência, e, havendo embora aqui que admirar a recuperação desse inenarrável texto da Ana Drago - merecedor, aliás, de um épico artigo do Miguel Sousa Tavares - é minha a opinião de que o pior "trogloditismo" está precisamente à Direita, e penso que não é preciso aprofundar para além disto.
Resta-me a consolação da evidência que sou uma pessoa mais ocupada do que o maradona.
(...) A frase, por exemplo, "Não me sinto com o direito de julgar moralmente as atitudes de quem decide em consciência interromper uma gravidez.". Eu por acaso sinto-me. A moral tem muitas vantagens e, aliás, quando é practicada em condições, julga precisamente a "consciência" das outras pessoas.
Há aqui onde moro uma miúda que durante 5 anos foi duas vezes por ano a uma certa e determinada senhora na Cova da Piedade. Eu acho que tenho o direito de julgar moralmente esta miúda, a sua familia e o comboio de namorados. No Algarve tinham que ir a Espanha, numa Ford Transit, e dentro da Ford Transit iam mulheres e familias a quem eu condenava moralmente o que andavam a fazer, e outras mulheres e familias que eu não condenava moralmente.
Mas daqui a colocar em questão a canalização dos "escassos recursos para a prática de abortos" vai uma grande distância. Acho que se deve "canalizar" sim senhora. Modesta e à parte, eu vejo "recursos" em todo o lado; e se não forem assim tantos como eu vejo, que se aumente os impostos, que se corte nas SCUTs, nos professores do ensino secundário, nos subsidios à RTP e à TAP, nas operações às varizes, onde quiserem, não percebo nada dessas merdas. Não se pode é obrigar as pessoas - onde, como sempre nestas coisas, predominam os mais pobres, os mais fracos e os mais sós - a arriscar a saúde e a vida por causa, primeiro, de uma lei estúpida, segundo, por causa de "escassos recursos".
O facto de eu condenar moralmente esta e muitas outras pessoas (e de não condenar muitas outras) não significa que ache aceitável que se atire milhares de mulheres e homens para fora do sistema nacional de saúde. A moral - ao contrário da ética - vem depois da saúde, quer-me parecer. Não percebo, portanto, esta conversa toda à volta da "consciência" e mais não sei o quê.
Também quero fazer um apontamento em relação ao "sequestro" do debate pelo "trogloditismo extremista". É que dá a sensação que é só a Esquerda a responsável por essa tendência, e, havendo embora aqui que admirar a recuperação desse inenarrável texto da Ana Drago - merecedor, aliás, de um épico artigo do Miguel Sousa Tavares - é minha a opinião de que o pior "trogloditismo" está precisamente à Direita, e penso que não é preciso aprofundar para além disto.
Resta-me a consolação da evidência que sou uma pessoa mais ocupada do que o maradona.
O dia de reflexão é ontem
Começam a chegar os primeiros e-mails. Mobilizem-se, passem a palavra, isto é importante, segue em anexo o comunicado da Associação das Famílias Numerosas (que, cá para mim, não precisa de comunicados para mostrar a sua posição, basta contá-los). Falo do aborto e do início da agitação pré-referendo que vai fazer aquecer as nossas veias todas. Como diz o Vasco e muito bem, esta é a pior altura para se formar uma opinião sobre o assunto ([...] Discutir o aborto em vésperas de referendo é tornar os argumentos reféns da militância exacerbada.[...]) Por isso não escondo o meu contentamento por ter essa questão resolvida dentro da minha cabeça há algum tempo. Mudei de opinião, mas não o fiz durante uma campanha demagógica (como esta vai ser, de ambos os lados). Gostava de escrever um texto, longuíssimo por natureza, a explicar a minha posição e o porquê da mudança de opinião, mas não vejo isso a ser possível num futuro próximo. Por agora deixava só o apelo para que os meus leitores (olá mãe) não deixassem para as vésperas do referendo a sua decisão. Leiam agora o que têm a ler, falem agora com quem têm de falar, pensem o que têm a pensar. Dou-vos dois meses. A partir daí é lei marcial.
quinta-feira, 19 de outubro de 2006
Nem uma bastonada? Umazinha? Um empurrão? Um chega pra lá?
(...) Fomos forçados a sair por uma aparatosa operação policial que envolveu dezenas de agentes de várias especialidades e fardas uniformemente aceleradas. É preciso que se note que os polícias foram incomparavelmente mais correctos do que os nossos governantes. (...)
Comunicado dos Tontos
Comunicado dos Tontos
quarta-feira, 18 de outubro de 2006
terça-feira, 17 de outubro de 2006
Mea culpa
Em baixo chamei tontos aos que se barricaram no Rivoli. Pois bem, parece que esta sua iniciativa inovadora e original (nas palavras na nossa ministra da cultura) ameaça inviabilizar um concerto do Luís Represas no local. Mea culpa. Há coisas que merecem ser subsidiadas.
Gente
Eu trancava a malta do metro com os tontos do Rivoli. Acho que estão bons uns para os outros.
P.S: Não deixa de ser sintomático que o Público encaixe a notícia dos tontos do Rivoli na secção de «Cultura».
P.S: Não deixa de ser sintomático que o Público encaixe a notícia dos tontos do Rivoli na secção de «Cultura».
segunda-feira, 16 de outubro de 2006
Pólos
(...) Até hoje nunca mais a vi, mas gosto de pensar que tenho esse efeito nas mulheres. (...)
Tiago Galvão
Tiago Galvão
sexta-feira, 13 de outubro de 2006
quinta-feira, 12 de outubro de 2006
O José António Saraiva Turco
Orhan Pamuk. Deixou a arquitectura pela escrita. Prémio Nobel da Literatura 2006.
Sou um provinciano de costas voltadas para a Europa
Nunca estive em Londres, nunca estive em Paris, nunca estive em Berlim, nunca fui a Roma (mas já vi o Papa); já estive em S. Paulo, no Rio de Janeiro, no Cairo, e estou por estes dias a ultimar os pormenores da minha segunda ida a Nova Iorque.
Se calhar este é um dos malefícios da União Europeia: tudo é familiar e demasiado próximo. Se queremos realmente viajar, precisamos de dar uso ao passaporte.
Se calhar este é um dos malefícios da União Europeia: tudo é familiar e demasiado próximo. Se queremos realmente viajar, precisamos de dar uso ao passaporte.
segunda-feira, 9 de outubro de 2006
terça-feira, 3 de outubro de 2006
Baixa-Chiado
A Proposta de Revitalização da Baixa-Chiado, respectivo PDF e plantas suporte, está disponível no site da CML, área de Consultas On-Line. O Público e o DN têm boas reportagens sobre o plano nas edições de hoje.
segunda-feira, 2 de outubro de 2006
Dia Mundial dos Arquitectos
É sintomático que a Ordem dos Arquitectos, a propósito do Dia Mundial da Arquitectura (que, reparo, é hoje), organize uma série de visitas a ateliers, numa coisa a que chamou Atelier Aberto. E que, paralelamente, organize umas visitas a obras (Reunião de Obra) por si seleccionadas. Os nomes, esses, são sempre os mesmos: o arquitecto recebe a malta no seu atelier, o arquitecto mostra à malta uma obra sua, o arquitecto é moderador num debate. Em vez de se virar para fora, para a sociedade civil, para a cidade, para o território, a Ordem dos Arquitectos assume o papel de menina mais gira da festa. Tudo transborda narcisismo e arquitecto-centrismo. O autor assume o papel principal, a arquitectura, essa «linguagem universal», fica reduzida a uns objectos lindíssimos e a uns estiradores arrumadíssimos. Espelho meu, espelho meu, haverá alguém mais belo do que eu?
A propósito de duas casas
Um dos grandes problemas da língua portuguesa é o facto da palavra «lar» ser tão foleira.
sábado, 30 de setembro de 2006
Plano de Revitalização da Baixa
Segundo li há dias, consta no recém entregue Projecto de Revitalização para a Baixa-Chiado a possibilidade de haver cotas para a classe média nas futuras habitações recuperadas. No site da CML cita-se Maria José Nogueira Pinto: «(...) [a política sectorial de habitação do projecto] vai permitir estabelecer uma cota para o segmento da classe média, que é no fundo a população que a Baixa sempre teve. Não queremos que aconteça o mesmo que no Chiado, cujo metro quadrado se ficou em valores muito altos. A Baixa tem de ser diferente. (...)» Este «tem de ser» arrepia-me. Mais me custa ouvir isto vindo de alguém que pertence a um partido que se diz liberal. Gostava de ter acesso a este Plano para o analisar com atenção, mas à partida esta ideia das cotas parece-me uma péssima ideia. Por uma razão de princípio, e por um rol de razões práticas. A existência de uma cota para a classe média pressupõe um custo para alguém, e esse alguém é o potencial investidor. Se eu, como investidor, vir limitado, por lei, o lucro que poderei obter, se calhar vou investir o meu dinheiro para outro lado. E a não ser assim, é a CML que vai suportar esse custo, através de subsídios a fundo perdido, directos ou indirectos, coisa para a qual não me parece haver condições. Enfim, fico desapontado. Como vou passar a morar brevemente na Baixa (não precisei de um Plano para me convencer) esta questão passa a afectar-me directamente. E a questão das cotas prejudica-me: acabo de comprar uma casa no mercado livre, espero poder vendê-la também no mercado livre. E ao querer, por lei, fazer baixar o preço por metro quadrado na Baixa, a CML está a baixar o preço por metro quadrado da minha casa (porque é que alguém há-de querer comprar a minha casa quando tem ao lado uma outra mais barata, subsidiada pelo Estado?). Quem me paga o prejuízo? Adiante. Vou para o Ikea.
sexta-feira, 29 de setembro de 2006
Bolinhas
Ora aqui está a prova de que nem sempre duas pessoas munidas da mesma informação chegam às mesmas conclusões. Falo de A Senhora da Água (que ainda não vi), o mais recente filme de Shyamalan, e das bolinhas (salvo seja) de dois críticos que prezo no DN, João Lopes e Pedro Mexia. O João Lopes dá 5 bolinhas, o Pedro Mexia dá bolinha vermelha (é tipo não dar bolinhas). Em que ficamos, obra-prima ou uma merda? Vou ter de ir ver o filme? É a isso que me obrigam?
P.S.1: Eu sou um fã do Shyamalan (hã?). Gostei muito de todos os seus filmes anteriores: O Sexto Sentido, Sinais e A Vila. Em princípio estou disposto a gostar deste seu novo trabalho, mas vamos lá ver. O quê? O Protegido? Não comento.
P.S.2: Mais bolinhas. Gostava que o programa de hoje na :2 pudesse ter bolinha: o debate entre o anglófilo e a francófila ganharia muito com o palavrão. É só uma ideia.
P.S.1: Eu sou um fã do Shyamalan (hã?). Gostei muito de todos os seus filmes anteriores: O Sexto Sentido, Sinais e A Vila. Em princípio estou disposto a gostar deste seu novo trabalho, mas vamos lá ver. O quê? O Protegido? Não comento.
P.S.2: Mais bolinhas. Gostava que o programa de hoje na :2 pudesse ter bolinha: o debate entre o anglófilo e a francófila ganharia muito com o palavrão. É só uma ideia.
quinta-feira, 28 de setembro de 2006
a paz de espírito só está ao alcance de um escasso número de pessoas inteligentes (e de uma multidão de estúpidos)
Os chineses têm aquela maldição insólita: «Que vivas em tempos interessantes», sabendo que os tempos desinteressantes são os únicos que permitem alguma paz de espírito. Não sei se isso é mesmo assim, porque todos os tempos são interessantes e desinteressantes (depende dos assuntos e dos gostos); e porque a paz de espírito só está ao alcance de um escasso número de pessoas inteligentes (e de uma multidão de estúpidos).
Eu vivi os meus «tempos interessantes» (os da maldição chinesa) entre 1993 (Agosto) e 2006 (Setembro). Entre o fim da adolescência e a entrada definitiva na idade «adulta» (imaginemos que), com uns grandes intervalos lúcidos pelo meio. Anos extraordinários mas extenuantes. Com muito delirium tremens, muita incerteza, muito telefonema tremendista, muita bolsa lacrimal e papila gustativa, muito descarrilamento, muita interpretação apressada, muita metáfora, muita valsa lenta e alegria breve e canções diante de uma porta fechada. (...)
Tempos Interessantes, Pedro Mexia, sugiro a leitura do texto na íntegra.
Eu vivi os meus «tempos interessantes» (os da maldição chinesa) entre 1993 (Agosto) e 2006 (Setembro). Entre o fim da adolescência e a entrada definitiva na idade «adulta» (imaginemos que), com uns grandes intervalos lúcidos pelo meio. Anos extraordinários mas extenuantes. Com muito delirium tremens, muita incerteza, muito telefonema tremendista, muita bolsa lacrimal e papila gustativa, muito descarrilamento, muita interpretação apressada, muita metáfora, muita valsa lenta e alegria breve e canções diante de uma porta fechada. (...)
Tempos Interessantes, Pedro Mexia, sugiro a leitura do texto na íntegra.
quarta-feira, 27 de setembro de 2006
Boato
Estou plenamente convencido de que, tal como acontecia com O Meu Pipi, o Tiago Galvão é o Ricardo Araújo Pereira.
terça-feira, 26 de setembro de 2006
Flair
Os ingleses são de facto superiores. Vai ser preciso muito tempo para vermos por cá este nível exibicional.
Bancada Central
Diz-se, nomeadamente por aí, que o Benfica está a fazer, cito, «um mau início de época». Mas qual «início», pergunto eu, e qual «época»? Estamos a falar naquela competição organizada pelos senhores Loureiro e Madaíl? Ai é aí que «começa a época»? Só se for para a ralé. Para o Benfica, assim como para o Barcelona e clubes desses, a época começa com a primeira jornada da liga dos campeões. Isto até agora têm sido treinos à porta aberta. E a isto chama-se snobismo desportivo. E como compete a um bom snob, mesmo decadente não se deixa de empinar o nariz. Benfica-Man Utd, que ganhe o melhor. Ou então o Benfica.
Títulos
Devido à greve do Metro, caminhei esta manhã da Baixa até ao Campo Pequeno (estou bem, obrigado). De passagem por um quiosque vejo, quase sem me deter, um título de jornal que me sobressalta com a hipótese de estar a ver mais uma frente diplomática sensível aberta por Joseph Raztinger: BENTO APOSTA NA CONSISTÊNCIA EM MOSCOVO. No nano-instante seguinte as minhas preocupações esfriam-se: percebo que o jornal é o Record e que se fala do Sporting.
sexta-feira, 22 de setembro de 2006
Vejam lá isso
Os muçulmanos são uns caras gozados, de facto. Mas a malta que organiza as manifs devia ter um bocadinho mais cuidado na escolha dos cartazes e dos cânticos. É uma questão de pormenor, admito, mas não será despropositado responder ao suposto insulto do Papa com cartazes dizendo «A resposta é conquistar Roma» enquanto cantam «O exército do Islão voltará»? À atenção lá do sindicato local.
Religião e razão
Muito interessante a análise que Pacheco Pereira faz ao discurso de Ratisbona do Papa. O texto do discurso é importantíssimo, concordo, mas a minha posição mantém-se: não cabe a um Papa «criticar o Islão» como se de um mero intelectual se tratasse. Apesar de eu ser particularmente sensível a essa relação entre a religião e razão. De qualquer maneira, aqui fica o devido copy / paste da segunda metade do artigo:
(...) O que é que o texto papal diz? Que a razão humana, o logos dos gregos, é um elemento indissociável da voz de Deus, e que todas as tentativas de separarem razão e fé, colocando uma contra a outra, são um erro. O Papa identifica essencialmente duas correntes que cometeram esse erro: uma a que afirma a transcendentalização absoluta de Deus; a outra a que resulta da separação iluminista entre fé e razão, que foi transportada para o cientismo contemporâneo.
Muito do que diz o Papa tem que ver com a percepção que tem Manuel II Paleológo de que a violência ao serviço da fé é "desrazoável" e "contrária à natureza de Deus". O próprio Papa diz que esta constatação é a "frase decisiva em toda a argumentação", e que o imperador, um erudito de cultura grega clássica, estava a enunciar um dado fundamental da tradição clássica grega, absolutamente idêntico ao que é a "fé em Deus fundada na Bíblia".
Ora, aqui o Papa critica o islão, não por causa da violência da espada de Maomé, mas sim porque "na doutrina muçulmana Deus é absolutamente transcendente", ou seja, dito em breve e em grosso, não há verdadeira interacção entre Deus e os homens, não há necessidade da razão, a fé é essencialmente aceitação e obediência. O Papa refere, "para ser honesto", que na tradição teológica cristã surgiram tendências do mesmo tipo, mas condena-as na mesma crítica que faz ao islão.
Porque é que o Papa diz isto tudo? Está lá no texto em todas as entrelinhas e nalgumas linhas: ao valorizar a fusão plena da tradição grega do logos com o cristianismo, o Papa está a enunciar a tradição cultural da Europa, da história tumultuosa do seu pensamento e dos fundamentos da sua identidade. Está a falar de religião e de política, de cultura e de pensamento, da União Europeia e da Turquia, do cristianismo e do islão. Isto sim é que devia ser discutido, isto é o que o Papa esperava que fosse discutido. E isto é que interpela o islão, se ele se deixar interpelar.
(...) O que é que o texto papal diz? Que a razão humana, o logos dos gregos, é um elemento indissociável da voz de Deus, e que todas as tentativas de separarem razão e fé, colocando uma contra a outra, são um erro. O Papa identifica essencialmente duas correntes que cometeram esse erro: uma a que afirma a transcendentalização absoluta de Deus; a outra a que resulta da separação iluminista entre fé e razão, que foi transportada para o cientismo contemporâneo.
Muito do que diz o Papa tem que ver com a percepção que tem Manuel II Paleológo de que a violência ao serviço da fé é "desrazoável" e "contrária à natureza de Deus". O próprio Papa diz que esta constatação é a "frase decisiva em toda a argumentação", e que o imperador, um erudito de cultura grega clássica, estava a enunciar um dado fundamental da tradição clássica grega, absolutamente idêntico ao que é a "fé em Deus fundada na Bíblia".
Ora, aqui o Papa critica o islão, não por causa da violência da espada de Maomé, mas sim porque "na doutrina muçulmana Deus é absolutamente transcendente", ou seja, dito em breve e em grosso, não há verdadeira interacção entre Deus e os homens, não há necessidade da razão, a fé é essencialmente aceitação e obediência. O Papa refere, "para ser honesto", que na tradição teológica cristã surgiram tendências do mesmo tipo, mas condena-as na mesma crítica que faz ao islão.
Porque é que o Papa diz isto tudo? Está lá no texto em todas as entrelinhas e nalgumas linhas: ao valorizar a fusão plena da tradição grega do logos com o cristianismo, o Papa está a enunciar a tradição cultural da Europa, da história tumultuosa do seu pensamento e dos fundamentos da sua identidade. Está a falar de religião e de política, de cultura e de pensamento, da União Europeia e da Turquia, do cristianismo e do islão. Isto sim é que devia ser discutido, isto é o que o Papa esperava que fosse discutido. E isto é que interpela o islão, se ele se deixar interpelar.
Lixo
José Diogo Quintela, mexendo no lixo que é o «jornalismo» desportivo português (com a preciosa ajuda de Leonor Pinhão).
40 anos
Através do PostHabitat noto que se anda a celebrar os 40 anos do Complexity and Contradiction in Architecture, de Robert Venturi. Como se nota pelo título deste blogue, é uma data que também não quero deixar passar em branco. Li-o a primeira vez quando era aluno do Manuel Vicente, talvez o mais venturiano dos arquitectos portugueses, e na altura foi uma enorme lufada de ar fresco no meu embrionário pensamento arquitectónico: quer o professor Manuel Vicente, quer o Complexity and Contradiction in Architecture. Ambos passaram e foram ficando para trás, mas frequentemente me apercebo que as poucas coisas que sei sobre arquitectura muito devem a essa dupla. Pelo humanismo, o humor, a vontade de olhar para as coisas com outros olhos, o espírito independente e algo marginal. Sobretudo pela ideia cimeira de que a arquitectura é uma coisa lúdica por natureza, e que o divertimento («divertido» era o adjectivo mais usado pelo Manuel Vicente) e a surpresa são essenciais na arquitectura. Como se nota, era e é um discurso bastante oposto àquele veiculado pelo Movimento Moderno e que ainda vai dominando o debate e a construção em Portugal. Curiosamente, quer do Robert Venturi quer do Manuel Vicente sempre gostei mais do que diziam (e dizem) do que aquilo que faziam (e fazem). O que é a combinação pedagógica perfeita, afastando os eventuais mimetismos e tiques sem sentido. Um brinde.
quinta-feira, 21 de setembro de 2006
Bento XVI no DN
(...) É por isso que Ratzinger terá, em alguma medida, de sacrificar o seu fascínio pela História das Ideias (oportunamente recordado nestas páginas por José Medeiros Ferreira) à sabedoria milenar herdada pelas vestes de Bento XVI. (...)
O ultra-moderado Mário Bettencourt Resendes faz um bom resumo da situação, cuja essência (para quem não quer dar-se ao trabalho de ler o artigo) se exprime neste parágrafo. Apesar de concordar com algumas coisas que Luciano Amaral diz hoje também no DN, não consigo ter essa posição de vitimização do Papa. E não ficava nada mal ao Vaticano começar a ter uma melhor relação com a comunicação social, em vez das constantes queixas (ainda que fundadas) sobre «as más interpretações».
O ultra-moderado Mário Bettencourt Resendes faz um bom resumo da situação, cuja essência (para quem não quer dar-se ao trabalho de ler o artigo) se exprime neste parágrafo. Apesar de concordar com algumas coisas que Luciano Amaral diz hoje também no DN, não consigo ter essa posição de vitimização do Papa. E não ficava nada mal ao Vaticano começar a ter uma melhor relação com a comunicação social, em vez das constantes queixas (ainda que fundadas) sobre «as más interpretações».
quarta-feira, 20 de setembro de 2006
Boas maneiras suecas
Ouvido, no IKEA, ontem:
(ele, carregando uma embalagem grande que parecia pesada aos ombros, para ela): Tu cala-te, senão levas com isto nas costas.
(ele, carregando uma embalagem grande que parecia pesada aos ombros, para ela): Tu cala-te, senão levas com isto nas costas.
Grandes questões
Pondo de lado por uns momentos o creacionismo, queria interpelar o Tiago Cavaco numa talvez mais essencial questão: a distorção. Agora que se aproxima a fama em palco, senti a necessidade de possuir aquilo a que se convencionou chamar uma pedaleira. Não gosto particularmente de efeitos, só preciso de dois ou três para lhe dar gás de vez em quando. Gosto de me manter relativamente iletrado no que toca à tecnologia: acho que se não vier da alma, não vale a pena vir de todo. Ainda assim, já encomendei o objecto. É robusto, metálico, um tanque, e é roxo. Posso dar-lhe patadas que, garantem-me, a coisa fica no sítio. Está limitada no número de cenas que faz ao som, o que me convém dados os 13 minutos diários que tenho para dedicar ao solos (a malta da minha banda rir-se-à com estes «13 minutos»). Como é óbvio, já todos perceberam que falo da Zoom GFX1, à venda nos locais habituais por pouco mais de 100 euros. Tiago, estou a desencaminhar-me? Um abraço.
O meu braço direito se a minha guitarra não é tal e qual esta.
O meu braço direito se a minha guitarra não é tal e qual esta.
Ordem
Um bom texto de Joaquim Manuel Magalhães, citado pelo Eduardo Pitta, que lembra que a questão do casamento homossexual não é apenas uma bandeira política do BE e da JS, mas é sobretudo uma questão de pessoas que se vêem casadas sem reconhecimento social e político, ou seja, marginalizadas sem razão aparente. É um texto sereno que dá voz àqueles que querem ver a situação resolvida mas que se incomodam com os Louçãs e as Jamilas desta vida. A ler.
terça-feira, 19 de setembro de 2006
Ainda o Papa
Uma das razões pela qual se percebe que nos está a escapar qualquer coisa é o facto da generalidade da esquerda ter desaprovado as declarações do Papa, e da generalidade da direita as ter defendido. Apesar de se tratar de um tema político, o que está em causa (na minha opinião) é saber se pode deixar-se um Papa cometer uma gaffe assim. Qual foi essa gaffe? A pouca sensibilidade que teve ao abordar, independentemente do contexto em que o fez, um tema são delicado. Ratzinger arriscou, sentiu-se à vontade para elaborar sobre o tema e escolheu uma citação que mereceria um maior cuidado. Se deveria pedir desculpa? Não, porque não há nada para desculpar. Ou melhor, a pedir desculpa seria sempre pela falta de tacto, pelas más interpretações a que deu aso, e nunca pelo conteúdo daquilo que disse. Ou seja, penso que é um assunto que diz respeito sobretudo aos católicos (e marginalmente aos muçulmanos, que atribuem com esta sua reacção um poder político ao Papa que ele não tem). É uma questão de estilo: haverá católicos que se sentem bem representados, outros que não tanto. Esta não é uma questão política, muito menos ideológica. Bento XVI não insinuou que o Ocidente era superior ao Islão; não ofendeu os muçulmanos, apenas analisou a relação entre uma religião e os poderes políticos que ao longo da história dela se usaram, análise que não fica bem a um Papa. O facto de nos termos todos aproveitado politicamente deste incidente (aposto que há por aí textos com a palavra «Bush») é sinal de que estamos todos mal preparados para o ouvir. Quem gosta de imputar a este Papa uma política conservadora e intolerante, logo viu aqui uma oportunidade de ouro (aqui cabe quase a imprensa toda); quem não gosta de perder uma ocasião para amaldiçoar os árabes, esticou o peito às balas dirigidas ao Papa. Tudo isto é triste e evitável.
P.S: A prova de como não é a religião que está aqui em causa, está no facto das comunidades islâmicas alemãs e britânicas terem vindo prontamente declarar que se sentem explicadas com os recentes esclarecimentos do Papa, enquanto que nos países muçulmanos os vários líderes religiosos continuam a insistir num suposto insulto (exceptuando, lá está, o caso do Egipto). Ou seja, não é fácil definir o que é o Islão, embora seja fácil perceber o que é o Irão. Isso faz toda a diferença.
P.S: A prova de como não é a religião que está aqui em causa, está no facto das comunidades islâmicas alemãs e britânicas terem vindo prontamente declarar que se sentem explicadas com os recentes esclarecimentos do Papa, enquanto que nos países muçulmanos os vários líderes religiosos continuam a insistir num suposto insulto (exceptuando, lá está, o caso do Egipto). Ou seja, não é fácil definir o que é o Islão, embora seja fácil perceber o que é o Irão. Isso faz toda a diferença.
segunda-feira, 18 de setembro de 2006
VPV e o Papa
O Papa e o islão
de Vasco Pulido Valente*
Não deve haver académico que, lá no fundo, não tenha um especial fraquinho pelo Papa Bento XVI. Afinal, ele faz parte da corporação e, mais, foi durante muito tempo um motivo de orgulho para a corporação. Fala o dialecto da seita, escreve no dialecto da seita e, se não pensa como a seita, pensa segundo as regras da seita. Só que é Papa e que, sendo Papa, de quando em quando, esquece o mundo cá de fora e reverte ao seu velho papel de universitário. O "escândalo" de Ratisbona não passa disto. Bento XVI, querendo explicar a irracionalidade da conversão pela violência, citou o imperador Manuel II Paleólogo. Num diálogo com um persa, Paleólogo dissera: "Mostra-me então o que Maomé trouxe de novo. Não encontrarás senão coisas demoníacas e desumanas, tal como o mandamento de defender pela espada a fé que ele pregava". O mais preliminar assistente de Literatura, História, Filosofia ou Teologia percebe logo três coisas. Primeira, que o Papa não dá o imperador Paleólogo como um intérprete autorizado da religião muçulmana, mas como um como um opositor inteligente à perseguição religiosa. Segunda, que o Papa não esqueceu as perseguições da sua própria Igreja e que usou o imperador por conveniência ilustrativa da desordem moderna. E, terceiro, como o título e o resto da conferência comprovam, que Ratzinger não estava interessado em "atacar" ninguém, estava interessado na dualidade da fé e da razão. Infelizmente, a "rua" islâmica não é o público letrado da Universidade de Ratisbona e começou rapidamente a usual campanha de ódio contra o Bento XVI, que de toda a evidência o deixou estupefacto. O papa já lamentou o equívoco, mas não pediu desculpa. Não podia pedir. Nem pelo incidente, fabricado pelo fanatismo e a ignorância, nem pelo teor geral da conferência de Ratisbona. Ratzinger insistiu que a fé não é separável da razão e que agir irracionalmente "contraria" a natureza de Deus. Não vale a pena entrar nas complexidades do assunto. Basta lembrar que desde o princípio (desde Orígenes, por exemplo) se construiu sobre a fé cristão um dos mais sublimes monumentos à razão humana e que o Ocidente, apesar da "Europa", não existiria sem ele. A fé muçulmana não produziu nada de remotamente comparável e, durante quinze séculos, sustentou uma civilização frustre e parada. A conferência de Ratisbona reafirmou a essência do cristianismo. Se o islão se ofendeu, pior para ele.
*Através da Bomba Inteligente
de Vasco Pulido Valente*
Não deve haver académico que, lá no fundo, não tenha um especial fraquinho pelo Papa Bento XVI. Afinal, ele faz parte da corporação e, mais, foi durante muito tempo um motivo de orgulho para a corporação. Fala o dialecto da seita, escreve no dialecto da seita e, se não pensa como a seita, pensa segundo as regras da seita. Só que é Papa e que, sendo Papa, de quando em quando, esquece o mundo cá de fora e reverte ao seu velho papel de universitário. O "escândalo" de Ratisbona não passa disto. Bento XVI, querendo explicar a irracionalidade da conversão pela violência, citou o imperador Manuel II Paleólogo. Num diálogo com um persa, Paleólogo dissera: "Mostra-me então o que Maomé trouxe de novo. Não encontrarás senão coisas demoníacas e desumanas, tal como o mandamento de defender pela espada a fé que ele pregava". O mais preliminar assistente de Literatura, História, Filosofia ou Teologia percebe logo três coisas. Primeira, que o Papa não dá o imperador Paleólogo como um intérprete autorizado da religião muçulmana, mas como um como um opositor inteligente à perseguição religiosa. Segunda, que o Papa não esqueceu as perseguições da sua própria Igreja e que usou o imperador por conveniência ilustrativa da desordem moderna. E, terceiro, como o título e o resto da conferência comprovam, que Ratzinger não estava interessado em "atacar" ninguém, estava interessado na dualidade da fé e da razão. Infelizmente, a "rua" islâmica não é o público letrado da Universidade de Ratisbona e começou rapidamente a usual campanha de ódio contra o Bento XVI, que de toda a evidência o deixou estupefacto. O papa já lamentou o equívoco, mas não pediu desculpa. Não podia pedir. Nem pelo incidente, fabricado pelo fanatismo e a ignorância, nem pelo teor geral da conferência de Ratisbona. Ratzinger insistiu que a fé não é separável da razão e que agir irracionalmente "contraria" a natureza de Deus. Não vale a pena entrar nas complexidades do assunto. Basta lembrar que desde o princípio (desde Orígenes, por exemplo) se construiu sobre a fé cristão um dos mais sublimes monumentos à razão humana e que o Ocidente, apesar da "Europa", não existiria sem ele. A fé muçulmana não produziu nada de remotamente comparável e, durante quinze séculos, sustentou uma civilização frustre e parada. A conferência de Ratisbona reafirmou a essência do cristianismo. Se o islão se ofendeu, pior para ele.
*Através da Bomba Inteligente
Vernáculo
«O futebol, para mim, acabou. Não volto com a palavra atrás. Em seis meses, tive dez inspecções à minha fábrica, recebi ameaças anónimas, deram-me cabo do carro. (...) A pessoa que me fez o telefonema foi à PJ, fez queixa, e tem três testemunhas. Defendo os microfones nos árbitros, porque a maior parte são mal formados, sem o mínimo respeito pelos profissionais. No lugar do Pintassilgo, tinha-lhe dado um murro nos cornos, porque não admito a ninguém que me chame filho da puta.»
O inflamado João Sintra, presidente do Portimonense, ontem, depois do jogo com o Leixões. Ouvi estas declarações na rádio, e permito-me dizer que este texto é um polimento considerável das palavras de João Sintra.
O inflamado João Sintra, presidente do Portimonense, ontem, depois do jogo com o Leixões. Ouvi estas declarações na rádio, e permito-me dizer que este texto é um polimento considerável das palavras de João Sintra.
domingo, 17 de setembro de 2006
O Papa não é um homem
Pois. CAA e João Miranda, no Blasfémias, passam ao lado de essencial:
(...) Então o Papa - ou qualquer outro cidadão numa sociedade europeia livre - não pode fazer uma interpretação histórico-filosófica acerca de factos com relevância, cultural, teológica e civilizacional? Ou sobre o que lhe apetecer? (...)
(...) Em nome desse acervo civilizacional já várias vezes me pronunciei contra atitudes deste Papa - pelas mesmas razões, agora sinto-me compelido a apoiar o seu direito e o da organização que dirige a poderem debater o que quiserem e como quiserem. (...)
CAA
(...) Onde é que param os do islão moderado? Umzinho que apareça a explicar que citar um imperador bizantino não é a mesma coisa que concordar com ele? Que para além do mais é uma coisa naturalíssima numa conferência para académicos. Umzino? Não há um único nos 1400 milhões que valorize a liberdade intelectual? (...)
João Miranda
Em primeiro lugar, não me interessa a reacção do Islão. Não é devido aos protestos dos muçulmanos na rua que as declarações do Papa me incomodaram. Em segundo lugar, ninguém (já excluí o mundo muçulmano) quer amordaçar o Papa, nem impedi-lo de dizer seja o que for. O que se trata aqui é de uma condenação das suas palavras, o que é muito diferente de dizer que o Papa não tinha o direito de as dizer. Tinha, mas isso não deixa de constituir um erro, precisamente porque o Papa é o Papa. E aqui chegamos ao terceiro ponto, e o mais essencial: contrariamente ao que o CAA pensa, o Papa não é «um cidadão numa sociedade europeia livre» qualquer, e muito menos é a Igreja «uma organização que [o Papa] dirige». E, para pegar no que diz o João Miranda, o Papa não pode deixar de ser Papa e voltar a ser um académico. É o preço a pagar por ser Papa. Quando Ratzinger fala, não fala por ele: aos Papas é negado o direito de ter opiniões pessoais (repare-se, é uma imposição de ordem religiosa, e não legal), sobretudo sobre assuntos como este. Um Papa não pode fazer um ensaio, uma exposição, uma palestra polémica apesar de intelectualmente estimulante. Sempre que o Papa fala em público, fala em nome de todos os católicos. E é assim que é visto pela opinião pública, e é assim que o é de facto. Por isso o Papa não pode fazer «interpretações [...] sobre o que lhe apetecer», e Ratzinger sabe-o. Confundir o direito à liberdade de expressão com a auto-legitimação de tudo o que um Papa diz, é algo que não faz sentido. A liberdade de expressão permite-o dizer o que disse, mas não me impede a mim, como católico, de desejar que ele não o tivesse dito. Sobretudo porque o que disse é um disparate com um forte alcance.
(...) Então o Papa - ou qualquer outro cidadão numa sociedade europeia livre - não pode fazer uma interpretação histórico-filosófica acerca de factos com relevância, cultural, teológica e civilizacional? Ou sobre o que lhe apetecer? (...)
(...) Em nome desse acervo civilizacional já várias vezes me pronunciei contra atitudes deste Papa - pelas mesmas razões, agora sinto-me compelido a apoiar o seu direito e o da organização que dirige a poderem debater o que quiserem e como quiserem. (...)
CAA
(...) Onde é que param os do islão moderado? Umzinho que apareça a explicar que citar um imperador bizantino não é a mesma coisa que concordar com ele? Que para além do mais é uma coisa naturalíssima numa conferência para académicos. Umzino? Não há um único nos 1400 milhões que valorize a liberdade intelectual? (...)
João Miranda
Em primeiro lugar, não me interessa a reacção do Islão. Não é devido aos protestos dos muçulmanos na rua que as declarações do Papa me incomodaram. Em segundo lugar, ninguém (já excluí o mundo muçulmano) quer amordaçar o Papa, nem impedi-lo de dizer seja o que for. O que se trata aqui é de uma condenação das suas palavras, o que é muito diferente de dizer que o Papa não tinha o direito de as dizer. Tinha, mas isso não deixa de constituir um erro, precisamente porque o Papa é o Papa. E aqui chegamos ao terceiro ponto, e o mais essencial: contrariamente ao que o CAA pensa, o Papa não é «um cidadão numa sociedade europeia livre» qualquer, e muito menos é a Igreja «uma organização que [o Papa] dirige». E, para pegar no que diz o João Miranda, o Papa não pode deixar de ser Papa e voltar a ser um académico. É o preço a pagar por ser Papa. Quando Ratzinger fala, não fala por ele: aos Papas é negado o direito de ter opiniões pessoais (repare-se, é uma imposição de ordem religiosa, e não legal), sobretudo sobre assuntos como este. Um Papa não pode fazer um ensaio, uma exposição, uma palestra polémica apesar de intelectualmente estimulante. Sempre que o Papa fala em público, fala em nome de todos os católicos. E é assim que é visto pela opinião pública, e é assim que o é de facto. Por isso o Papa não pode fazer «interpretações [...] sobre o que lhe apetecer», e Ratzinger sabe-o. Confundir o direito à liberdade de expressão com a auto-legitimação de tudo o que um Papa diz, é algo que não faz sentido. A liberdade de expressão permite-o dizer o que disse, mas não me impede a mim, como católico, de desejar que ele não o tivesse dito. Sobretudo porque o que disse é um disparate com um forte alcance.
sábado, 16 de setembro de 2006
Erro
As declarações do Papa, ainda que eventualmente descontextualizadas, são indesculpáveis (ou se apela a uma estranha ingenuidade ou então tem de se explicar que a um Papa do séc. XXI se cobra tanto aquilo que «parece» como aquilo que «é», são as regras do jogo). Parece que Ratzinger ainda não percebeu que há uma diferença entre ser um teólogo respeitado e ser Papa. O que lhe terá passado pela cabeça para, em vésperas de uma visita à Turquia, se ter lembrado de centrar em Maomé e no Islão uma palestra (não sabia que os Papas davam «palestras») sobre a relação entre a religião e violência? E o que lhe terá passado pela cabeça para citar, como bem nota o Bruno, um imperador bizantino contemporâneo da Inquisição? A mim fica-me a estupefacção, e a sensação cada vez mais forte de que Joseph Ratzinger foi um enorme erro de casting.
sexta-feira, 15 de setembro de 2006
Luca
Metade da blogosfera que leio está a discutir o evolucionismo e o creacionismo. Não percebo nada do assunto. Não sou cientista. Nem pregador. Mas ainda assim sinto-me mais creacionista do que a outra cena. Corrijam-me se estou errado: segundo os evolucionistas, passámos disto
para isto
apenas devido à «evolução das espécies», não é? Sou o único a considerar que essa tese coloca, digamos, algumas interrogações?
para isto
apenas devido à «evolução das espécies», não é? Sou o único a considerar que essa tese coloca, digamos, algumas interrogações?
quinta-feira, 14 de setembro de 2006
Modelo
O problema dos recibos verdes e da sua respectiva geração é um problema de estilo: só se podem preencher com uma esferográfica, o que determina logo aí o status da coisa. Há quem possa não dar importância a este pormenor, eu acho-o decisivo. Regularmente somos reduzidos à condição-Bic, se é que me endentem. Coincidência? Não creio. O recibo verde tem a fama que tem devido à impossibilidade de o preenchermos com a nossa Montblanc vintage (dá-se o acaso de eu não possuir nenhuma, mas se possuisse gostava de poder assinar os meus recibos com ela, iam a ver se não nos passavam a olhar doutra forma, é o que eu vos digo), e não por causa do regime instável de trabalho que representa. Oh, ingénuos, é a Bic que nos lixa.
terça-feira, 12 de setembro de 2006
Tira teimas
Fernando Santos, n'A Bola: «Temos o desejo de fazer um bom jogo e fundamentar a capacidade desta equipa, e, como disse a seguir ao jogo [com o Boavista], não tenho dúvidas da qualidade desta equipa e daquilo que é capaz de fazer». Estou com Fernando Santos. Também eu, depois do jogo com o Boavista, não tenho dúvidas da qualidade desta equipa e daquilo que é capaz de fazer.
Figo
O problema do Sporting é que é uma equipa simpática. Desde a saída do Sá Pinto e tirando Liedson, não há ali ninguém para odiar, o que torna os jogos ligeiramente aborrecidos para um benfiquista. Eu até gosto muito do Moutinho, do Nani, do Djaló (era assim no CM, será sempre assim) e daquele miúdo promissor que entrou na segunda parte, o Alecsandro. O Alecsandro, aliás, é um fenómeno que visto agora até seria previsível. O Alecsandro é, digamos, uma simbiose entre os dois grandes grupos imigratórios que se têm vindo a estabelecer em Portugal: os primos do Deco e a malta de leste. Reparem, não é Alessandro nem Alexandr: é Alecsandro. O que explica muita coisa. Mas não explica o golo do Caneira.
Só queria deixar uma nota, que se prende com a atitude de Patrik Vieira aquando da sua expulsão. Vieira, apesar de ainda ser neto de português, demonstrou uma dignidade invulgar. Foi mal expulso (aquilo era para amarelo, está bem que seria o segundo, mas nunca para vermelho directo, o que é razão suficiente para uma pessoa se indignar) e não protestou. Esperou uns segundos, tentando perceber se o adversário estava bem, e saiu. Repito: e o Vieira ainda é neto de português. Isto é ainda mais difícil de explicar do que o golo do Marco.
Só queria deixar uma nota, que se prende com a atitude de Patrik Vieira aquando da sua expulsão. Vieira, apesar de ainda ser neto de português, demonstrou uma dignidade invulgar. Foi mal expulso (aquilo era para amarelo, está bem que seria o segundo, mas nunca para vermelho directo, o que é razão suficiente para uma pessoa se indignar) e não protestou. Esperou uns segundos, tentando perceber se o adversário estava bem, e saiu. Repito: e o Vieira ainda é neto de português. Isto é ainda mais difícil de explicar do que o golo do Marco.
Muito mais
«Os terroristas têm muita culpa, mas as pessoas que combatem o terrorismo têm muito mais.»
Dr. Mário Soares, ontem, naquele programa da Fátima Campos Ferreira
Dr. Mário Soares, ontem, naquele programa da Fátima Campos Ferreira
segunda-feira, 11 de setembro de 2006
Enfim
Não, não. Eu acho que o Modernismo foi uma revolução, e que há, sem dúvida, um antes do Modernismo e depois do Modernismo. Talvez se sobrevalorize o papel intelectual dos arquitectos no meio disto tudo: o betão armado terá sido provavelmente o maior responsável pela mudança de paradigma. Mas que foi uma revolução, um modo novo de desenhar edifícios (o Frampton diz que não, enfim), lá isso foi. Escreveram-se coisas e fez-se muita propaganda. A malta juntou forças e organizou comícios. Os Ornamentos e Crimes, os CAMS, a fotografia. Nunca antes se tinha assistido assim a uma vontade tão concertada de mudar as coisas, de ensinar essas mesmas coisas (a Bauhaus). Aquela merda foi melhor organizada do que o PC Chinês. Depois, só mais tarde, é que vieram os regionalismos e essas coisas todas, quando os arquitectos começaram a perceber que a história estava a ir longe demais. De resto, tudo de acordo.
P.S: E ó João, isto não quer dizer que o Modernismo foi essecialmente de esquerda? «Provavelmente o erro modernista é ter abandonado o indivíduo, preterido pelo sonho colectivo.» Sonho colectivo? Mas então...
P.S: E ó João, isto não quer dizer que o Modernismo foi essecialmente de esquerda? «Provavelmente o erro modernista é ter abandonado o indivíduo, preterido pelo sonho colectivo.» Sonho colectivo? Mas então...
A face do terror
Ok. O João Pereira Coutinho é um menino. Uma criança, um corista de calções. JPC acusa Corbusier e a arquitectura moderna de serem ambos maus, frios, cinzentos, autoritários e arrogantes. Com isso vivemos nós bem. Não, não nos fiquemos por aí. O alcance do mal impregnado na arquitectura moderna vai muito além das paredes cinzentas. Quem a sabe toda é o João César das Neves, que percebeu direitinho o culpado do 11 de Setembro. Esqueçam Bin Laden, é esta a face do terror:
Minoru Yamasaki
(...) Assim, os protagonistas das acções destes últimos cinco anos estiveram ausentes do atentado que alegadamente lhes deu origem. Nem o Afeganistão, nem o Iraque, nem as armas de destruição maciça representaram qualquer papel naquela terrível manhã. Aliás, as famigeradas armas mantiveram-se teimosamente ausentes em todo o processo e só agora ameaçam aparecer, mas no Irão e na Coreia do Norte, que nada têm a ver com o assunto. Por outro lado o arrojo arrogante do arquitecto das Torres Gémeas nem sequer foi indiciado. (...)
in DN 11.09.06
Minoru Yamasaki
(...) Assim, os protagonistas das acções destes últimos cinco anos estiveram ausentes do atentado que alegadamente lhes deu origem. Nem o Afeganistão, nem o Iraque, nem as armas de destruição maciça representaram qualquer papel naquela terrível manhã. Aliás, as famigeradas armas mantiveram-se teimosamente ausentes em todo o processo e só agora ameaçam aparecer, mas no Irão e na Coreia do Norte, que nada têm a ver com o assunto. Por outro lado o arrojo arrogante do arquitecto das Torres Gémeas nem sequer foi indiciado. (...)
in DN 11.09.06
domingo, 10 de setembro de 2006
FARC
Tudo bem que Vital até pode ter publicado 10 posts no dia 8 de Setembro. Tudo bem. Mas a quantidade só serve para iludir os mais desatentos. Verdadeiramente digno de registo é o seu post solitário, e de uma linha apenas, de 10 de Setembro (espera lá, 10 de Setembro é hoje, fica aqui a
nota que Vital pode voltar atacar ainda durante o dia de hoje). Reza assim:
E queixam-se!
«Professores portugueses são terceiros mais bem pagos da OCDE.»
Pronto. Vital já rima há muito com «liberal». Pimba: cacetada nos professores e nos sindicatos. A este já não deixam passar pelos portões da Atalaia.
nota que Vital pode voltar atacar ainda durante o dia de hoje). Reza assim:
E queixam-se!
«Professores portugueses são terceiros mais bem pagos da OCDE.»
Pronto. Vital já rima há muito com «liberal». Pimba: cacetada nos professores e nos sindicatos. A este já não deixam passar pelos portões da Atalaia.
sábado, 9 de setembro de 2006
Os nossos valores*
Não é a primeira vez que João Pereira Coutinho se debruça sobre a arquitectura moderna. Também não é a primeira vez que usa os exemplos pioneiros da arquitectura moderna como pecados capitais de um grande mal orquestrado pelos «autoritários» arquitectos. De qualquer maneira, e porque sou sensível aos argumentos de JPC (ou seja, sei que ele não está a ser desonesto, está apenas mal informado), aqui fica um excerto da sua crónica no renovado (yeah, right) Expresso:
(...) O que nos diz Alain de Botton? O mesmo que Ruskin um século antes: a arquitectura não se limita à qualidade técnica que exibe; a arquitectura é uma arte humana e, como todas as artes humanas, lida essencialmente com a natureza dos homens em sociedade. Tradução: se um arquitecto acredita que o seu «métier» é semelhante ao de um poeta ou pintor, ele passa ao lado do essencial. A arquitectura tem pouco a ver com a originalidade solipsista de outras expressões artísticas. Pior: na busca da originalidade arquitectónica existe sempre uma pulsão autoritária - a necessidade de impor colectivamente o que apenas nos pertence individualmente. Não preciso dar exemplos, embora as experiências urbanísticas do nosso Siza fossem um bom exemplo: a avenida dos Aliados, no Porto, um espaço tradicionalmente de encontro e fruição, está hoje convertido num deserto de cimento por onde se passa mas não se fica.
Alain de Botton também oferece um caso: na década de 20, Henry Frugès, industrial francês, resolveu encomendar a Le Corbusier um conjunto de habitações para os seus operários. Le Corbusier correspondeu à encomenda com utilitário concentrado: habitações despojadas; janelas rigorosamente rectangulares; total ausência de "folclore decorativo", para usar as palavras do próprio. O resultado, do ponto de vista funcional, é perfeito. Mas perfeito na cabeça de Corbusier.
Na realidade, os operários que passavam 12 ou 14 horas a trabalhar numa fábrica desejavam mais do que 'função' e 'racionalidade' na altura de regressar a casa. Por isso começaram, com o passar do tempo, a rasgar janelas onde só havia cimento; a plantar pequenos jardins; a acrescentar portadas de madeira; e a desfigurar, para horror do arquitecto, o sonho abstracto que o animara. Ainda hoje é possível visitar Pessac, no sul de França, e contemplar o local do crime: o lugar dessa revolta humana contra os abusos do racionalismo modernista.
(...) Relembro apenas que os sítios que habitamos devem expressar a forma como vivemos. E nem sempre espaços perfeitos, estética ou funcionalidade, são uma promessa de felicidade. Se dúvidas houvesse, bastaria olhar para as nossas próprias casas: espaços imperfeitos que se vão moldando ao nosso corpo, e ao corpo das nossas rotinas, como se fossem peças de vestuário que habitamos por dentro. E que não trocamos por nada.
Corbusier foi um homem perturbado com uma visão, e suficientemente hábil para a conseguir fazer avançar junto dos homens e no terreno. Fez muito de questionável e até de condenável (há quem não o ache, eu estou na primeira fila a atirar as pedras que forem precisas), mas tornou-se, por mérito próprio, num mentor de uma geração, ou de várias gerações. Como sempre acontece numa revolução (a a arquitectura moderna foi uma revolução), os excessos dos PRECs não são suficientes para condenar a coisa toda. Corbusier foi um mal necessário que ajudou a arquitecura a sair do buraco eclético e superficial onde se tinha enfiado. Com o seu racionalismo (lembrar que quando se falar de arquitectura moderna nem sempre se fala de racionalismo), Corbusier lembrou os valores intrínsecos da arquitectura. Falhou, falhou redondamente sobretudo nos seus projectos de habitação colectiva (eu não viveria lá nem à lei da bala). Mas abriu muitas portas. E usar esses exemplos como prova da incapacidade da arquitectura moderna, do seu ímpeto totalitário e desumano, é não querer discutir ou apreciar tudo o resto. Também não preciso dar exemplos, mas posso invocar um homem que deve muito a Corbusier: Fernando Távora. Muito mais haveria para discutir, mas acontece que vou almoçar.
* A crónica de JPC chama-se «Arquitectura da felicidade».«Os nossos valores» é o título da crónica vizinha de página de Daniel Oliveira, que não li, e nem sei de que trata (reparo que começa com «Bush»), mas que se adequaria na perfeição a esta de JPC, com ênfase noo «nossos».
(...) O que nos diz Alain de Botton? O mesmo que Ruskin um século antes: a arquitectura não se limita à qualidade técnica que exibe; a arquitectura é uma arte humana e, como todas as artes humanas, lida essencialmente com a natureza dos homens em sociedade. Tradução: se um arquitecto acredita que o seu «métier» é semelhante ao de um poeta ou pintor, ele passa ao lado do essencial. A arquitectura tem pouco a ver com a originalidade solipsista de outras expressões artísticas. Pior: na busca da originalidade arquitectónica existe sempre uma pulsão autoritária - a necessidade de impor colectivamente o que apenas nos pertence individualmente. Não preciso dar exemplos, embora as experiências urbanísticas do nosso Siza fossem um bom exemplo: a avenida dos Aliados, no Porto, um espaço tradicionalmente de encontro e fruição, está hoje convertido num deserto de cimento por onde se passa mas não se fica.
Alain de Botton também oferece um caso: na década de 20, Henry Frugès, industrial francês, resolveu encomendar a Le Corbusier um conjunto de habitações para os seus operários. Le Corbusier correspondeu à encomenda com utilitário concentrado: habitações despojadas; janelas rigorosamente rectangulares; total ausência de "folclore decorativo", para usar as palavras do próprio. O resultado, do ponto de vista funcional, é perfeito. Mas perfeito na cabeça de Corbusier.
Na realidade, os operários que passavam 12 ou 14 horas a trabalhar numa fábrica desejavam mais do que 'função' e 'racionalidade' na altura de regressar a casa. Por isso começaram, com o passar do tempo, a rasgar janelas onde só havia cimento; a plantar pequenos jardins; a acrescentar portadas de madeira; e a desfigurar, para horror do arquitecto, o sonho abstracto que o animara. Ainda hoje é possível visitar Pessac, no sul de França, e contemplar o local do crime: o lugar dessa revolta humana contra os abusos do racionalismo modernista.
(...) Relembro apenas que os sítios que habitamos devem expressar a forma como vivemos. E nem sempre espaços perfeitos, estética ou funcionalidade, são uma promessa de felicidade. Se dúvidas houvesse, bastaria olhar para as nossas próprias casas: espaços imperfeitos que se vão moldando ao nosso corpo, e ao corpo das nossas rotinas, como se fossem peças de vestuário que habitamos por dentro. E que não trocamos por nada.
Corbusier foi um homem perturbado com uma visão, e suficientemente hábil para a conseguir fazer avançar junto dos homens e no terreno. Fez muito de questionável e até de condenável (há quem não o ache, eu estou na primeira fila a atirar as pedras que forem precisas), mas tornou-se, por mérito próprio, num mentor de uma geração, ou de várias gerações. Como sempre acontece numa revolução (a a arquitectura moderna foi uma revolução), os excessos dos PRECs não são suficientes para condenar a coisa toda. Corbusier foi um mal necessário que ajudou a arquitecura a sair do buraco eclético e superficial onde se tinha enfiado. Com o seu racionalismo (lembrar que quando se falar de arquitectura moderna nem sempre se fala de racionalismo), Corbusier lembrou os valores intrínsecos da arquitectura. Falhou, falhou redondamente sobretudo nos seus projectos de habitação colectiva (eu não viveria lá nem à lei da bala). Mas abriu muitas portas. E usar esses exemplos como prova da incapacidade da arquitectura moderna, do seu ímpeto totalitário e desumano, é não querer discutir ou apreciar tudo o resto. Também não preciso dar exemplos, mas posso invocar um homem que deve muito a Corbusier: Fernando Távora. Muito mais haveria para discutir, mas acontece que vou almoçar.
* A crónica de JPC chama-se «Arquitectura da felicidade».«Os nossos valores» é o título da crónica vizinha de página de Daniel Oliveira, que não li, e nem sei de que trata (reparo que começa com «Bush»), mas que se adequaria na perfeição a esta de JPC, com ênfase noo «nossos».
sexta-feira, 8 de setembro de 2006
quinta-feira, 7 de setembro de 2006
Só para ver se entendi
Está toda a gente surpreendida por haver uma organização terrorista sul-americana no Avante?
Depois queixem-se
Será que as pessoas (excluindo, para simplificar, todos aqueles que compraram o álbum da Floribela) sabem que os Strokes são a melhor banda do mundo? Há dias em que me fica a sensação que talvez não. Isso deixa-me inquieto.
quarta-feira, 6 de setembro de 2006
segunda-feira, 4 de setembro de 2006
domingo, 3 de setembro de 2006
Sei que sou o que sonhei
A discussão sobre a «regionalização» e a «descentralização» há muito que se arrasta em Portugal. É um daqueles temas onde parece que é bonito haver um grande concenso politicamente correcto: estamos todos a favor, só não sabemos como. Ora, a Igreja Católica em Portugal há muito que está à frente do seu tempo, e os referidos conceitos estão serenamente enraízados no seio da sua cultura. Basicamente, e tal como acontecerá com a descentralização, a Igreja Católica é politeísta, usando-se de um mui avançado politeísmo por delegação de competências. Essa hierarquia é bem visível nos meses de verão por esse país fora, mais especificamente, por esse país dentro. Há festa, há baile, há música em honra das variadíssimas lusas Nossas Senhoras (que são uma e uma só, para quem acha que a Santíssima Trindade é difícil de ententer). O ambiente é feudal: a aristocracia rural cruza os portões das suas quintas e junta-se ao povo na ginginha, no bagaço e no calo. Primas que no ano passado ainda não tinham maminhas, este ano já usam mini-saia. Um tio que no ano passado apanhou um pifo de caixão à cova, este ano está com um pifo de caixão à cova. Um amigo vem de Lisboa e traz a namorada que faz furor, o Zé das bifanas caiu para cima dela acidentalmente três vezes só durante o medley. Há uma grande sensação de classe, condições sociais fictícias que se tornam reais se todos nelas acreditam. A terra não é grande, e a consanguinidade ameaça. Só se vê primos, engates dos primos, e empregados dos primos. Tudo regado ao ar livre, a sessenta cêntimos a imperial. Pela noite dentro, pois não há ninguém para se queixar do barulho, e mesmo se o fizesse não teria grande sorte: o destacamento da zona da GNR está todo encostado ao balcão das ginginhas, amparando-se os agentes mutuamente. Foi precisamente numa dessas celebrações regionais que julgo ter assistido ontem, e penso não me enganar, a uma actuação, ao vivo, a cores, com caspa e tudo, para chegar finalmente ao propósito do post, do há muito esquecido e abandonado, injustamente, terá de se ressalvar, Serafim Saudade. O quê, ele não existe? Também a Nossa Senhora da Piedade Infinita do Monte dos Pobres também não, e não é por isso que se deixam de rebentar foguetes em sua honra.
sexta-feira, 1 de setembro de 2006
Tabelas
Vital Moreira deixou uma questão interessante: comparar os salários mínimos e médios nos países da UE, para ver se também nessa comparação estamos na cauda da europa. A coisa interessou-me, e dei uma volta por aí. Encontrei esta tabela (Table 3) que faz precisamente essa comparação (deixa alguns estados de fora, incluindo o nosso). Por outro lado, neste relatório da Embaixada Americana aparece referido um valor do salário médio em Portugal, citando a CGTP como fonte. O salário médio ronda os 682€, segundo os comparsas da central sindical. Ou seja, podemos dizer que o salário mínimo em Portugal (374,40€) representa 54,8% do salário médio nacional. Voltemos à tabela inicial. Procuremos, então, algum país com uma percentagem superior a esta. Rapidamente se percebe que estamos à procura do inexistente. A tabela é limitada no seu alcance, pois deixa de fora os países sem salário mínimo (Austria, Alemanha, Itália, e os super-nórdicos todos), mas o facto de entre os páises que foram submetidos a esta análise nenhum apresentar uma relação entre salário mínimo e salário médio tão alta como Portugal, indica que o nosso salário mínimo é alto, e pode ser um factor de desiquilíbrio no mercado de trabalho. Ou significa que o salário médio é baixo. Ou seja, parece que «há um forte argumento para o crescimento do salário mínimo nacional» abaixo «da subida dos salários em geral». Mas eu não percebo nada de economia.
quinta-feira, 31 de agosto de 2006
Longe de Manaus*
Até se lhe perdoa esta coisa dos manuais escolares: o Origem das Espécies assinala um ano, e este blogue assinala com prazer o dito. Obrigado, Francisco.
*Este título de post, além de ser o segundo de hoje que leva asterisco, não faz sentido nenhum. Não há aqui nenhum trocadilho, nem seque uma alusãozita de segunda. Acontece que estou a lê-lo e apeteceu-me.
*Este título de post, além de ser o segundo de hoje que leva asterisco, não faz sentido nenhum. Não há aqui nenhum trocadilho, nem seque uma alusãozita de segunda. Acontece que estou a lê-lo e apeteceu-me.
Este meu
(...) É verdade, meus queridos amigos. Fui muitas vezes esmagado pela visão que muito boa gente tem desta merda toda, mas nada que se compare a este meu, o Tolstoy. A partir de agora, em vez de ter opinião, vou apenas, na medida do possivel, e assim o Miguel Sousa Tavares ou a Ana Drago não provoquem, vou passar a apenas mostrar os resultados, como uma chave do Totobola. Um xis e dois. (...)
A verdade é que se o maradona escrevesse mais, este blogue passaria a ser um mero exercício de copy/paste, o que me facilitava muito a vida.
A verdade é que se o maradona escrevesse mais, este blogue passaria a ser um mero exercício de copy/paste, o que me facilitava muito a vida.
Estado S.A.
A razão pela qual eu sou um liberal e não um conservador é que não pretendo estender a dúvida para o campo político. A dúvida está lá como modo de vida (fico três semanas para escolher uma cadeira, três meses para desenhar umas escadas, três anos a tentar perceber o que quero fazer na vida, três vidas para perceber se Deus existe), e a tão desejada ambiguidade é o que me move. Mas quando toca à política alto lá e para o baile. Gosto dos gráficos, das certezas, da arrogância que os liberais têm ao ensinarem-nos a maneira liberal de estrelar um ovo. Dá-me segurança, penso, acreditar nos gráficos. Causa consequência, análise económica, racionalização, essas coisas todas. Politicamente, gosto delas, porque acredito que se conseguem atingir resultados, e acredito que é desejável que se atinjam resultados. Talvez pense assim porque não quero ser político, não quero participar no jogo. Quero apenas que uns senhores de gravata me resolvam os problemas para que eu possa continuar a dedicar-me com conforto às dúvidas que valem a pena. Há cinco frases escrevi que me dá segurança acreditar nos gráficos. Não usei o verbo acreditar por acaso: sei que se trata de uma fé como outra qualquer. Apesar de ser uma ideia bonita pensar o contrário, acho que quando se fala de filosofias políticas se fala mais em política e menos em filosofia. Os livros e as prosas são inspiradores, mas quando toca a decisões as coisas surgem na Rua de S. Caetano ou no Largo do Rato, onde a elevação de espírito não me parece estar muito presente. Esta é talvez a minha costela conservadora: a descrença e o pessimismo, a falta de ideais salvíficos. Por isso é que eu recorro à brigada da equação: nos números e nas tabelas sobra pouco espaço para a retórica.
A dúvida existencial é demasiado bela para ser conspurcada pelos aparelhos partidários (ainda que eu não cometa a imprudência de considerar que a política se reduz aos caciques.) Ser liberal ou conservador é, afinal, apenas uma questão política, e isso não interessa assim tanto.
A dúvida existencial é demasiado bela para ser conspurcada pelos aparelhos partidários (ainda que eu não cometa a imprudência de considerar que a política se reduz aos caciques.) Ser liberal ou conservador é, afinal, apenas uma questão política, e isso não interessa assim tanto.
terça-feira, 29 de agosto de 2006
Pôncio
Acabo de saber, através do O Dia Seguinte, programa futeboleiro na Sic Noticias sem interesse absolutamente nenhum, encabeçado por David Borges, destruído por Fernando Seara, adormecido pelo o gajo de bigode do Porto, e salvo por Dias Ferreira, que Pôncio Monteiro está no hospital em estado grave. Não tenho mais informações porque só consulto sites estrangeiros, que não se interessam pelo Pôncio Monteiro.
Não sei se alguma vez tiveram o privilegio de assistir a alguma das execuções sumárias de Pôncio Monteiro a algum árbitro que só tenha beneficiado o Porto em seis penaltis inexistentes e três jogadores mal expulsos para o adversário. Pôncio Monteiro tem uma memória tão wikipediana e uma inteligência tão finamente afinada para a defesa das cores portistas que mesmo Pinto da Costa, Pôncio querendo, poderia passar inequivocamente por espião do Benfica.
Esta sua soberba, e por enquanto inigualável, capacidade para estruturar factos remotamente interligados por forma a mascarar a mais evidente das evidências, por si só, faria de Pôncio Monteiro o melhor de todos. Mas ele, nas suas, sempre escassos e curtas, aparições, não criou apenas magníficos romances que no fim revelavam sempre manadas de cavalos de Troia cheios de estádios da Luz carregadinhos de benfiquistas dentro das nossas orelhas.
Para além disso, como bónus, acresce que é tudo isto é servido com um escandaloso sentido de humor, uma ironia e um sarcasmo que, como diz a matemática, só pode estar ao alcance de uma pessoa que é melhor que as outras e para quem, portanto, a Carta Universal dos Direitos dos Homens faz, de facto, uma grande injustiça ao equivale-lo à escumalha restante.
Que recupere.
maradona
Não sei se alguma vez tiveram o privilegio de assistir a alguma das execuções sumárias de Pôncio Monteiro a algum árbitro que só tenha beneficiado o Porto em seis penaltis inexistentes e três jogadores mal expulsos para o adversário. Pôncio Monteiro tem uma memória tão wikipediana e uma inteligência tão finamente afinada para a defesa das cores portistas que mesmo Pinto da Costa, Pôncio querendo, poderia passar inequivocamente por espião do Benfica.
Esta sua soberba, e por enquanto inigualável, capacidade para estruturar factos remotamente interligados por forma a mascarar a mais evidente das evidências, por si só, faria de Pôncio Monteiro o melhor de todos. Mas ele, nas suas, sempre escassos e curtas, aparições, não criou apenas magníficos romances que no fim revelavam sempre manadas de cavalos de Troia cheios de estádios da Luz carregadinhos de benfiquistas dentro das nossas orelhas.
Para além disso, como bónus, acresce que é tudo isto é servido com um escandaloso sentido de humor, uma ironia e um sarcasmo que, como diz a matemática, só pode estar ao alcance de uma pessoa que é melhor que as outras e para quem, portanto, a Carta Universal dos Direitos dos Homens faz, de facto, uma grande injustiça ao equivale-lo à escumalha restante.
Que recupere.
maradona
A minha ignorância é avassaladora
Lyonel Feininger, american-born german cubist / expressionist painter (notar como adiro a cada uma destas palavras), pintor que fez o obséquio de se manter desconhecido à minha pessoa, até ao dia de hoje. Há um extremo bom gosto nestas obras, que aparecem sem pretensão. As formas limam-se num esforço de abstracção que se quer incompleto, para que não se abra lugar à interpretação. Sim, isto é bastante mais «cubista» que «expressionista», mas um cubismo talvez naïf, pré-cubista em consciência, que deve mais a Cézanne do que a Picasso e Braques. Não há nada aqui que surpreenda ou inove, mas tudo é admiravelmente harmonioso, o que revela uma matéria muito sabida e muito bem aplicada. Aqui, as formas são elas mesmas, apenas ligeiramente deformadas, quase a régua e esquadro, num gesto muito caro à arquitectura. Talvez não seja por acaso que Feininger tenha sido uma pedra importante na Bauhaus de Gropius, e percebe-se (por estas obras, por exemplo) a vocação pedagógica deste homem. Infelizmente a História (de arte), na busca científica da síntese, acaba por deixar para as notas de rodapé aquilo que não é essencial, como este professor Feininger. Podia ficar aqui a noite toda a colar obras do tipo. Acreditem. Já ganhei o dia.
(Acabei de descobrir que esta imagem é um pormenor de uma obra. Quero lá saber. Este tipo resiste até à descontextualização. Deve ser isto que a Susan Sontag queria.)
segunda-feira, 28 de agosto de 2006
Da eficácia
Apesar de nunca ter ido à Suécia, apesar de não conhecer quase nada da Suécia, apesar de provavelmente não gostar da Suécia, às vezes apetecia-me que Portugal fosse um bocadinho mais parecido com a Suécia.
sexta-feira, 25 de agosto de 2006
Plutão
Anda toda a gente a fazer trocadilhos com Plutão (guilty as charged). Uns bons, outros maus, outros previsíveis (guilty as charged). Mas a taça vai, direitinha, para o Filipe Nunes Vicente:
CÁ PARA MIM: Plutão foi mas é apanhado a fumar.
CÁ PARA MIM: Plutão foi mas é apanhado a fumar.
Lisboa
(...) O principal museu de Lisboa, situado numa zona nobre da cidade, parece implantado numa superfície lunar. Nas redondezas não há um café, uma esplanada, um restaurante, um quiosque de jornais e revistas, uma praça de táxis. Há só um passeio com 70cm de largura, um fontanário seco cuja brancura fere a vista, e as portas fechadas de meia dúzia de bares que abrem à meia-noite. O olhar perdido dos turistas diz tudo.
Eduardo Pitta, no Da Literatura
Eduardo Pitta, no Da Literatura
quinta-feira, 24 de agosto de 2006
terça-feira, 22 de agosto de 2006
Britpop
A reboque da entrevista abaixo mencionada, aproveito para recomendar mais um programa com o carimbo da BBC: architecture on 3, e os mui recomendáveis arquivos.
Grande Tusa
You see what's interesting is that in quite a lot of the writing about you, people say, well the thing about Piano is that he avoids theory, he avoids intellectualisation, indeed he's almost anti-intellectual. But from what you're saying - and I know we're not talking about theory - but what you're saying is not anti-intellectual. Now was there one particular period in your life you think that you deliberately almost fostered an image of excessive practicality?
Yes, of course, because, because you, first because you change. And being the son of a builder I enjoyed, in a quite snob way in some ways, to be a son of a builder, especially in an environment where sometimes architects been played a bit too much the artistic role.
Excerto de uma entrevista de Renzo Piano a John Tusa. Oiçam-na, esqueçam o transcript. Acabo de me aperceber que para entendermos realmente a obra de Renzo Piano, para conseguirmos sentir o seu espírito verdadeiramente, para vermos muitas das nossas dúvidas respondidas, temos necessariamente de o ouvir falar inglês. Impagável.
Os arquivos deste John Tusa têm que se lhe diga. Carlos Vaz Marques, step aside, please.
Yes, of course, because, because you, first because you change. And being the son of a builder I enjoyed, in a quite snob way in some ways, to be a son of a builder, especially in an environment where sometimes architects been played a bit too much the artistic role.
Excerto de uma entrevista de Renzo Piano a John Tusa. Oiçam-na, esqueçam o transcript. Acabo de me aperceber que para entendermos realmente a obra de Renzo Piano, para conseguirmos sentir o seu espírito verdadeiramente, para vermos muitas das nossas dúvidas respondidas, temos necessariamente de o ouvir falar inglês. Impagável.
Os arquivos deste John Tusa têm que se lhe diga. Carlos Vaz Marques, step aside, please.
Quando toca aos clássicos sou de clichés
A abertura da Carmen, de Georges Bizet. Por exemplo. Agora mesmo, na Antena 2, ouvida no carro. Ah.
Globalização, procura-se
Com tanto chinês em Portugal, será que não há nenhum que tenha um primo que me arranje as referidas cadeiras a um preço de amigo? Wang? Li? Pong? Alguém?
sexta-feira, 18 de agosto de 2006
Notem que nós queremos a versão «creme»
Acabei de receber um e-mail que me acusa de ter mau gosto em cadeiras.
quinta-feira, 17 de agosto de 2006
Projecto de execução
Passo os dias a desenhar armários. Projecto de execução. Passo as noites a escolher cadeiras. Projecto de habitação.
Na imagem: Barcelona Chair, de Mies van der Rohe. Andamos à procura de imitações baratas. Contacatar para o e-mail acima. Obrigado.
sábado, 12 de agosto de 2006
Livre arbítrio
Conheço pessoas que acreditam em Deus. Não sei se diria «acreditam», talvez seja mais algo do campo do «saber», e não do «acreditar». São pessoas que sabem que Deus existe e, mais do que isso, sabem que Deus as ama. São profundamente religiosas, e de beatice não têm nada. Não rezam para que lhes passe a constipação, não rezam para serem aumentadas, não condenam os pecadores, não são moralistas. Mas evangelizam, através daquilo que são. Só posso imaginar que seja tranquilizador conhecer Deus, e saber que ele nos é exterior, uma entidade autónoma que não depende de nós para existir. Não sou assim, apesar de ser cristão. Deus é para mim algo que só faz sentido (e tem de fazer sentido, o que me separa desde logo dos meus amigos crentes) se for incompreensível. Um mistério, usando terminologia bastante canónica. Se eu acredito que há algo que não se pode reduzir a electrões e protões, só me consola a ideia de que me será sempre negada a hipótese de a conhecer. Não desisto de tentar, e é a isso que chamo teologia. E é por isso que a teologia me interessa tanto, porque se apresenta como a tentativa de atingir o inatingível. Algo que nos faz, ainda que apenas por brevíssimos momentos, acreditar que estamos perto de compreender Deus. Uma desesperada tentatica de superarmos a nossa escala. Não sei se Deus existe, e não me inquieta a hipótese da resposta ser negativa. É essa dúvida que me faz correr. É no constante confronto entre o absoluto abstracto que é a perfeição divina e a imperfeição exasperante da espécie humana que encontro as minhas bases para entender a vida de Cristo, e fazer dela uma religião. Entendo que para acreditarmos em Deus teremos que acreditar na infinidade da dúvida, na permanente existência do conflito humano com o desejo de salvação divina, até ao fim dos tempos. O que nos impede de tornar esta questão em algo puramente académico são os relatos dos evangelistas sobre o homem que não conseguimos censurar. Uma vez a Clara Ferreira Alves, a propósito de uma edição comentada da Bíblia (acho), disse que mais espantoso do que atribuirmos autoria divina àquele conjunto de livros, é imaginarmos que a Bíblia é puramente obra humana. Não podemos acreditar que o Homem é capaz de criar aquela história. Acho a ideia bonita, mas não concordo. Não há nada mais espantoso do que equacionar a existência de Deus. É a dúvida última. Isto não acaba com a nossa morte. O paraíso não é um conceito idílico. O livre arbítrio, esse, é o penoso caminho que julgamos ser do nosso interesse. O preço a pagar.
Copo meio cheio
O emigrante sai do seu país para sempre retornar nas férias. Aquele que fica atura a choldra mas sai sempre nas férias. Não sei quem fica a ganhar.
quinta-feira, 10 de agosto de 2006
Lisboa está a ficar pequena demais
Já é difícil andar de metro sem reconhecer alguma cara. De manhã, à tarde, está lá sempre alguém que já lá esteve as vezes suficientes para ser recordado. Pensam o mesmo de mim, certamente. O anonimato, aos poucos, vai-se perdendo, e com ele o escudo urbano por excelência. Se isto continua assim, mudo-me para o campo. Ao menos é mais fresquinho.
Hackmeter
Agora foi o Francisco José Viegas. Depois do Abrupto, a pirataria vai fazendo a sua história, e já se tornou no novo critério de peso na blogosfera. Blogue que é blogue, é valandizado.
(Obviamente, ninguém me vai atacar. Mas eu simulo, que vocês nem dão por nada. Ah, a fama.)
(Obviamente, ninguém me vai atacar. Mas eu simulo, que vocês nem dão por nada. Ah, a fama.)
PUB
O Melancómico está de volta. Voltou com com um post tão bom que até parece que se matou só para poder ressuscitar.
segunda-feira, 7 de agosto de 2006
Our own Route 66
Como nos disse um senhor lá no alto do Gerês, «é pegar aí essa routezinha nova». De realçar também a barriga de atum grelhada comida em terras de Santa Luzia, Tavira.
sexta-feira, 21 de julho de 2006
Pela minha saúde que isto acabou de acontecer
Agitei um iogurte, já aberto.
Declaro aberta a época tonta. Vou de férias. Cuidem-se, conduzam pela direita, separem os lixos e usem protector solar.
Declaro aberta a época tonta. Vou de férias. Cuidem-se, conduzam pela direita, separem os lixos e usem protector solar.
quinta-feira, 20 de julho de 2006
Já se percebeu
Está a pagar o justo pelo pecador. Certo. Mas é que nesta semana o pecador anda especialmente empenhado em atazanar-me o juízo.
Todos temos os nossos desabafos
E o que é o arquitecto? Alguém que sabe muito pouco daquilo que o precedeu, e muito sobre o que lhe sucederá. Um ignorante iludido, portanto.
Não
Cada vez me convenço mais que escolhi a arquitectura porque venho de uma família de engenheiros. Só para chatear? Não. É que vista do ponto de vista do engenheiro, a arquitectura parece muito mais interessante.
Um passo à frente
Desde criança gosto de música de velho, mas ultimamente venho me esforçando para gostar de música de velhos de outras gerações – não dos velhos de agora, que só ouvem barulho. (...)
Alexandre Soares Silva
Alexandre Soares Silva
terça-feira, 18 de julho de 2006
The Office
Um filme, quase irreal*, mostra Bush a dizer merda. «Shit», quero eu dizer. Ora, sinceramente não percebo. Não me cabe na cabeça. Escapa-me por completo. Há uma revelação bombástica neste vídeo, e malta centra-se numa palavra. Serei o único a ter reparado que Bush come de boca aberta?
*Por uns momentos, quase que esperei ver David Brent.
*Por uns momentos, quase que esperei ver David Brent.
segunda-feira, 17 de julho de 2006
sexta-feira, 14 de julho de 2006
Ana Malhoa na banheira
«Mesmo no 'Expresso', aliás, fui sempre eu quem mais ousou. Quem acha que pôs a Ágata com o Mercedes? Quem acha que deu a notícia do divórcio do Emídio Rangel e da Margarida Marante?»
José António Saraiva, citado na NS' de 08.08.06, pág. 24
José António Saraiva, citado na NS' de 08.08.06, pág. 24
quinta-feira, 13 de julho de 2006
Nuno Melo
O Rui Tavares quis ser «ainda menos simpático» com a esquerda e o melhor que saiu foi isto: «(...) Um marciano acabado de chegar a este país poderia achar que está tudo bem à esquerda e tudo mal à direita (...)» Demolidor, a esquerda nunca mais se recompõe depois desta vergastada. Isto para introduzir a opinião do Pedro Mexia sobre o que se passou ontem na sauna da democracia. A verdade é que é tudo corrido a eito, da esquerda à direita passando pelo Pignatelli Queiroz, mas parece-me que são os arautos da lealdade orgânica que mais sentirão os respectivos estômagos revirar.
quarta-feira, 12 de julho de 2006
Mercado
O eBay tem-me feito alguns dias. O correio hoje entregou-me a última aquisição. Uma lente Nikon Series E, 28mm f2.8, como nova, linda de morrer, para encaixar na minha Nikon FE2 (ide googlar para saber do que estou a falar). O preço? 30 euros, com viagem incluída. Dado, meus amigos, dado pelo meu amigo austríaco. Aliás, devo aqui passar testemunho da minha experiência no eBay. Comprai sempre a indivíduos alemães ou austríacos, evitai os franceses. Não quero com isto prolongar a polémica, é apenas estatística. A única peça que não me satisfez totalmente proveio da Gália. A europa também é isto: aprender em quem podemos confiar no eBay.
A 25ª hora
Descobri que preciso de mais uma hora. Julgo não estar a ser ganancioso. Bastava-me que a rotação da terra sobre si própria durasse 60 minutos mais. Como qualquer burguês trabalhador por conta de outrém, vejo-me envolvido naquilo a que se convencionou chamar rotina diária. Dia após dia tenho constatado que só tenho 7 horas disponíveis para dormir. Não é mau, reconheço, mas é claramente deficitário. Alterar a rotina não é opção, pois julgo tê-la reduzida ao seu núcleo indivisível, o seu quark, ou lá o que é que inventaram depois dos protões e assim. Como perceberão, necessito, realço, necessito de 8 horas de sono para me sentir, como dizem nos anúncios de tampões, fresco. Poderia riscar este post da minha agenda, bem como esta tardia ronda internética. Aprecio a preocupação, mas teria de ficar aqui até amanhã para conseguir explicar porque razão o tempo aparentemente desperdiçado é tão fulcral. Acho que me apetece mudar o template.
terça-feira, 11 de julho de 2006
What's in a word
Um tipo escreve «esquerdalhada» e de Espanha vem logo a censura. Politicamente correctos, sejamos então.
Assim dão razão ao Pacheco
A Federação Portuguesa de Futebol (FPF) quer que os 50 mil euros que cada um dos jogadores participantes no Mundial da Alemanha trouxe para casa fiquem isentos de IRS.
Mais me revolta ser isto um pedido da FPF, querendo aproveitar a onda de estupidificação geral para rapinar mais uns tostões ao Estado. Há gente que não merece o que tem. Pegando no exemplo do Francisco, não se podia apanhar o Figo a pagar os impostos?
Mais me revolta ser isto um pedido da FPF, querendo aproveitar a onda de estupidificação geral para rapinar mais uns tostões ao Estado. Há gente que não merece o que tem. Pegando no exemplo do Francisco, não se podia apanhar o Figo a pagar os impostos?
O mártir
A esquerda, pelos vistos, tem uma nova causa: tentar provar que Materazzi chamou «terrorista» a Zidane. Não pega, lamento. Sou sensível ao esforço criativo, mas esta não é a primeira (apesar de ter sido a última) agressão de Zidane, e não consta que tenham sido todas resposta a acusações «muito graves». Zidane esteve infeliz, e mesmo que Materazzi tenha insinuado que o bom do Zinedine é sócio com as cotas em dia da Al-Qaeda, o facto é que isso não desculpa a sua atitude. E vocês, ó esquerdalhada, não enganam ninguém: estão é lixados porque a França perdeu.
segunda-feira, 10 de julho de 2006
Directório dos Arquitectos
Está ainda a dar os primeiros passos, mas promete ser útil, esta estante de catálogos virtual. E não só: a ambição é congregar aqui uma série de informação relevante para a gente. Ide espreitar.
A cidade sem pessoas
Todos os vícios e tiques da arquitectura moderna estão bem explícitos na mais recente intervenção de Siza e Souto de Moura no Porto. O Carlos Romão tem uma série de fotografias com o antes e depois. Os Aliados parecem agora uma maquete conceptual, toda lisa, monocromática, com árvores instrumentais, um verde absolutamente submisso ao cinzento da pedra. O que me escandaliza mais é a ausência de bancos. Sim, a praça pode até estar bonita, mas as pessoas vão para ali fazer o quê?
sábado, 8 de julho de 2006
Militante em causa própria
O João é um militante em causa própria, um individualista inflamado, um panfletário da liberdade absoluta. Anda há 3 anos nisso. Um abraço.
P.S: Boffil, então. Gosto do Atrium Saldanha (uma afeição que tem vindo a crescer), e esse Compave não me parece nada mal. Não é isso que me move, mas sim a complexa questão da construção em altura. Vejo as coisas assim: é desejável que existam alguns edifícios, implantados em áreas muito bem escolhidas da cidade, cuja altura ultrapasse os limites legais. Prefiro uma cidade assim, onde a excepção tem razão de ser. Posto isto, quem, como, e onde se devem contruir estas desejadas excepções? O concurso público parece-me a solução mais acertada. A câmara escolhe o local e licita o direito de construção, fazendo a triagem dos melhores projectos. Se queremos arquitectura de excepção, o processo deve ser excepcional. Parece-me óbvio que os critérios de aprovação camarária não podem ser os mesmos para um edifício de 4 pisos em Carnide e para um edifício de 22 pisos na Av. Fontes Pereira de Melo. Concurso e discussão pública, digo.
P.S: Boffil, então. Gosto do Atrium Saldanha (uma afeição que tem vindo a crescer), e esse Compave não me parece nada mal. Não é isso que me move, mas sim a complexa questão da construção em altura. Vejo as coisas assim: é desejável que existam alguns edifícios, implantados em áreas muito bem escolhidas da cidade, cuja altura ultrapasse os limites legais. Prefiro uma cidade assim, onde a excepção tem razão de ser. Posto isto, quem, como, e onde se devem contruir estas desejadas excepções? O concurso público parece-me a solução mais acertada. A câmara escolhe o local e licita o direito de construção, fazendo a triagem dos melhores projectos. Se queremos arquitectura de excepção, o processo deve ser excepcional. Parece-me óbvio que os critérios de aprovação camarária não podem ser os mesmos para um edifício de 4 pisos em Carnide e para um edifício de 22 pisos na Av. Fontes Pereira de Melo. Concurso e discussão pública, digo.
sexta-feira, 7 de julho de 2006
A rebeldia da minha adolescência vandalizada
Metallica no átrio da Câmara Municipal de Lisboa; Guns n' Roses na RFM.
quinta-feira, 6 de julho de 2006
À atenção do dr. Vital Moreira
Descoberto, através do postHABITAT, o Princess Juliana International Airport. E para quem acha que a Portela fica «muito em cima de Lisboa», recomendo este vídeo.
E, cientificamente, pertencemos à mesma espécie
(Na CML)
- Quer o recibo com número de contribuinte, ou só com nome?
- Só com nome, por favor.
- Só com nome não pode ser, tem de ir sem nada.
- Quer o recibo com número de contribuinte, ou só com nome?
- Só com nome, por favor.
- Só com nome não pode ser, tem de ir sem nada.
Paz e sossego ao Marquês de Pombal 2
Over the years we have come to confuse football with something else, something more necessary, which is why these cries of outrage are so heartfelt and so indignant. We view everything from the top of this moutain of partisan passion; it is no wonder that all our perspectives are wrong. Perhaps it was time to climb down, and see what everyone else in the outside world sees.
Nick Hornby, Fever Pitch
Nick Hornby, Fever Pitch
Paz e sossego ao Marquês de Pombal
Sempre ouvi o meu pai falar, com carregada nostalgia, de Eusébio, Beckenbauer, Cruyff, mas sobretudo de Pelé. Para os meus filhos, até agora, só tenho um nome: Zidane. Não falo do jogo de ontem (concordo em absoluto com este resumo no Pitau Raia), falo de um jogador, apenas. A minha falta de entusiasmo, explicitamente decidida, não me permitiu acreditar em nada que não fosse o que veio a acontecer. Por isso, entretive-me a admirar o melhor jogador de futebol que já vi jogar (vi Maradona, mas o que me lembro é já da fase decadente). Só por ele não me chateio muito se a Itália perder a final. Eu vi Zidane jogar. Esta já ninguém me tira. Os meus netos que me aturem.
quarta-feira, 5 de julho de 2006
Entulho
Estou à espera de casa. As obras estão concluídas, o edifício está pronto, mas a burocracia estatal atrasa a escritura (sabe como estas coisas são). Telefono para a agência mediadora, que medeia sempre tudo bem até chegar uma pergunta concreta (isso já não depende de nós, é mais 15 dias). Raramente obtenho a informação que pretendo, mas à segunda conversa com a senhora que atende os telefones já sei que ela tem dois cachorros, o que atrapalha a sua hora de almoço. As nossas conversas acumulam entulho.
Itália
O primeiro golo da Itália no jogo de ontem foi um dos mais belos golos da história do campeonato do mundo. Por uma infinitude de razões, das quais destaco três: (1) o movimento do Pirlo, o modo como espera e espera e espera (lembro que estávamos no minuto 118), quase a desesperar qualquer italiano que já só queria ver o remate, para depois fazer um passe absolutamente magistral, com a bola obedientemente a insinuar-se ao remate de Grosso; (2) o remate de Grosso, partindo de uma posição meio de ladecos para encontrar o equilíbrio perfeito no pé esquerdo, pedindo gentilmente à bola para descrever um arco, afastando-se assim de Lehmann e encontrando a rede, bem juntinho ao poste; (3) o facto de ter sido contra a Alemanha, um golo que elimina a equipa da casa ao minuto 118, um golo daqueles, é o auge do cinismo, tão frio que nem deu para ver alemães revoltados, só desesperados, todos, sem excepção, pensando «eu sabia que isto ia acontecer».
terça-feira, 4 de julho de 2006
Passa a palavra
Vital Moreira quis ser mais uma vez recta pronúncia. Agora diz, do alto da sua cátedra, que a selecção portuguesa tem de jogar com as cores nacionais, e não com este «bordeaux exótico», fascista na sua génese, como fascistas são aqueles que dizem encarnado em vez de vermelho (olha aqui um). É claro que os organismos do futebol da Holanda, da Itália, da Alemanha e da Espanha também são fascistas, e anti-fascistas são todos aqueles que sabem quando se deve invocar a bandeira, e quando invocar a bandeira é fascista. Fascismos à parte, não era disto que eu queria falar. Eu queria falar de bola, e do jogo que está prestes a começar. Torço pela Itália, que é a única equipa que tem direito a jogar cínica e defensivamente, tendo registado os direitos de autor ainda nos anos 60, quando toda a gente andava entretida com flores e revoluções. São honestos e fazem-no bem, não são como estes agora todos que jogam assim porque não sabem jogar de outra maneira (julgam-se descobridores do «pragmatismo», ah ingénuos). Também torço pela Itália porque gosto de torcer pelos vencedores, e hoje parece-me óbvio que a Itália ganha (1-0, Toni). Além disso, a Alemanha é a equipa da casa e, por princípio, devemos estar sempre contra a equipa da casa. Quanto ao jogo de amanhã, está tudo resumido aqui: "LIBERTÉ, EGALITÉ E VANCIFUDÉ!".
segunda-feira, 3 de julho de 2006
Vila utopia 2
Reparem nos materiais, os tacos no chão, a pastilha no banco/guarda, as paredes e o tecto rebocados a branco, sem sanca, sem nada; a curva imperfeita que se deforma por cima da janela (provavelmente por limitações na técnica construtiva, sinal de que o arquitecto não se conformou, tentou), a geometria inquieta, a luz milimétrica, a perfeita noção de que tudo aqui foi arriscado, experimentado, imaginado. Faz-nos bem sair da perfeita banalidade do bom gosto em que caiu a arquitectura portuguesa (abram uma revista qualquer da especialidade), e visitar a obra doutros lados do mundo. Por acaso, desta vez foi Moçambique, mas qualquer coisa para lá de Badajoz serve, especialmente se disser respeito a obras de baixo orçamento, onde a criatividade e a inteligência ainda não precisas. De resto, são caixas brancas, estúpidas caixas brancas com plasmas e recuperadores de calor, cozinhas equipadas e retretes belíssimas, tudo quadrado, rectangular, alinhado.
domingo, 2 de julho de 2006
Acho que foi isso
Luizão, jogador do Flamengo, resume assim o problema do Brasil: «Não tem mistério. Faltou tesão à Seleção Brasileira, acho que foi isso.»
A fama, a glória
Entretanto, este blogue ultrapassou a barreira das 100000 pageviews, o que, em parecendo que não, é bonito.
sábado, 1 de julho de 2006
sexta-feira, 30 de junho de 2006
A Argentina
Acaba de ser eliminada. Pekerman conseguiu perder um jogo com Aimar, Saviola e Messi no banco. Jogaram Julio Cruz, Cambiasso, e o coxo Crespo. E ainda tirou Riquelme a meio da segunda parte. Não vale a pena: todos jogam com medo. Medo de sofrer golos, medo de perder o controlo do meio campo, medo do contra-ataque, enfim, parafraseando Gabriel Alves, medo de ser feliz. Passou a Alemanha que, honra lhe seja feita, é comandada por um grande senhor, Jurgen Klinsmann. O resto é Ballack e mais 10 (aquele Podolski tem futebol nas pernas mas, tal como Klose, é polaco). A minha namorada está contente: o parece que o Ballack é giro.
Um rude golpe para a Al-Qaeda
Hum, terá Freitas escolhido a véspera do Portugal-Inglaterra para anunciar a sua demissão por coincidência?
Era uma reinação
Diamantino Miranda, ex-jogador de futebol e comentador ocasional, revelou durante os comentários ao Alemanha-Argentina (vamos para prolongamento, o Messi já não entra, este Peckerman é um cara gozado) que o ambiente vivido pelos jogadores da selecção durante o Mundial de 86 (Portugal eliminado na fase de grupos, o escândalo Saltillo) era muito melhor do que o ambiente durante o Euro 84, em França (Portugal nas meias-finais, apenas eliminado pela França de Platini, futura campeã). Disse-o sem vergonha, pareceu.
quinta-feira, 29 de junho de 2006
Merece uma cacetada
Merece uma cacetada o novo grafismo da Atlântico. Parece a revista da Ordem dos Engenheiros (digo-o sem intenção, parece mesmo). Está mais cinzenta, mais corporate, menos inventiva. É uma pena, já que o anterior grafismo era, pelo menos, característico da revista e conferia-lhe alguma irreverência. Este agora parece um folheto interno de um banco qualquer, feito sem vontade e quase por obrigação. Enfim, está tudo pior. E como o preço também subiu, de 3 para 4 euros, fica-me a sensação de que o Paulo Pinto Mascarenhas quer perder leitores. Pelo menos esforça-se por isso.
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