quinta-feira, 29 de março de 2007

Géneros

Já há algum tempo que o Pedro Mexia transformou o Estado Civil num fenómeno puramente literário. A forma como diz tem agora carta verde para se sobrepor ao que diz. Há uma atenção à palavra que vem da poesia, que é notória post após post, num exercício de forma e de ritmo (quase) profissional. É um blogue à procura da palavra certa, da frase certa, sem cair no facilitismo do aforismo. O «Pedro Mexia» blindou o Pedro Mexia; a primeira pessoa passou a ser um narrador de si mesmo que, como qualquer narrador, não se confunde com o narrado. Como já foi dito, isto representa uma sublime adequação ao meio, uma reinvenção do estilo da escrita blogosférica (não nos podemos esquecer de que foi o Pedro Mexia a inventar o estilo que nós todos tentámos copiar). Como qualquer (bom) artista, criou, analisou, desinteressou-se e voltou a criar. Fases que se vão tornando faces da mesma moeda. O seu percurso tem vindo a evidenciar uma vontade de apuramento estilístico notável, que procura descobrir aquilo que é escrever num blogue, e de que modo é que isso não se confunde com qualquer outro tipo de suporte literário. Aquilo que nós, seus leitores, temos vindo a assistir em directo é à criação de um capítulo na história da literatura portuguesa (o Pedro não vai gostar de ler isto, paciência). Pessoalmente preferia o estilo mais descuidado e combativo da Coluna Infame, ou o lado lúdico do Dicionário do Diabo. Mas percebo a vontade do Pedro Mexia, corrijo, a necessidade do Pedro Mexia em não se ficar pelo experimentado, em dignificar esta escrita, este meio, não o deixando cair na vulgaridade própria da blogosfera, nem na aparente subestimação em relação aos outros estilos, a poesia e a crónica, sobretudo. Resta-nos agradecer poder assistir a isto tudo in loco, sem pagar bilhete.

Ora, posto isto, tinha custado muito ter conspurcado essa lindeza toda com um itálicozito a anunciar o último É a Cultura, Estúpido, que por sinal foi dedicado a'«O Futuro da Cidade de Lisboa», e que teve como convidado o Manuel Salgado? Era? Chiça, um gajo recebe tanta merda no email todos os dias, e as coisas mais importantes ficam por divulgar porque acontece que os seus participantes são poetas, ó caralho. Dá raiva.

Richard Rogers



Poucos edifícios me impressionaram tanto como o Lloyds. Nesta época da fácil transmissão da imagem e da arquitectura que se tornou refém dessa mesma imagem, os edifícios famosos transformaram-se em máquinas de desilusão, experiências falhadas no confronto com o conceito entretanto gerado na nossa memória. Comigo tem sido sempre assim, quase invariavelmente. A sede do Lloyds, que vi há precisamente 12 dias (contei-os), conseguiu a proeza de ter fintado por completo todas as impressões que levava na bagagem. Deixou-me rendido e exaltante. Curiosamente, a apenas uns metros de distância, a partilhar o protagonismo daquela esquina escura da city, fica o 30 St Mary Axe, bastante mais recente e fruto de uma lógica diferente, que também me surpreendeu pela positiva, muito pela positiva. Norman Foster já tinha ganho o Pritzker em 1999. No ano anterior tinha sido a vez de Renzo Piano, co-autor do Pompidou. Muito justamente, cá está o Pritzker deste ano para Richard Rogers. Agora, e para completar o naipe, só falta o Pritzker para o mais novo do trio maravilha inglês: Nicholas Grimshaw.

quarta-feira, 28 de março de 2007

Discriminação injuriosa

O disposto nas alígneas anteriores não é aplicável às construções ilegais.

Alígnea c), do artigo 70º, do Regulamento do Plano Director Municipal de Lisboa

Ensino superior

Desta trapalhada toda da Universidade Independente, só estranho a reacção dos alunos. Pedem mais aulas, pedem aulas. Pedem, aos gritos, a presença dos professores. Dizem-se enganados. Seria interessante saber qual era a taxa de assiduidade dos alunos da Independente antes deste episódio.

O poste que deu post (série renomeada) v7

Hoje ia na rua a ler um livro e choquei contra um poste. Quer dizer, ontem.

O poste que deu post (série renomeada) v6

Hoje ia na rua a ler um livro e choquei contra um poste. Ficámos amigos.

O poste que deu post (série renomeada) v5

Hoje ia na rua a ler um livro e choquei contra um poste. Cabrão do poste.

O poste que deu post (série renomeada) v4

Hoje ia na rua a ler um livro e choquei contra um poste. Não o vi a chegar.

O poste que deu post (série renomeada) v3

Hoje ia na rua a ler um livro e choquei contra um poste. Magoei-me em três dedos.

O poste que deu post (série renomeada) v2

Hoje ia na rua a ler um livro e choquei contra um poste. À volta, pessoas riram.

Das Leben der Anderen



É muito difícil não gostar deste filme por motivos políticos. É muito fácil gostar deste filme por motivos cinematográficos. Volto para explorar o tema.

terça-feira, 27 de março de 2007

Um post minimal

Hoje ia na rua a ler um livro (Prova de Vida, o último do Pedro Mexia) e choquei contra um poste. O livro ficou amassado.

O Direito Humano à liberdade de expressão

Quando vi de manhã o post do jcd pensei: «estou com muito trabalho, não tenho tempo para comentar, vou esperar que o maradona o faça pois depois (pois depois, espezinho a língua de camões) é só fazer o copy paste respectivo.»

Ao contrário de praticamente todas as inteligências mundiais...

... eu acho que a tecnologia é a única verdadeira amiga de um módico de verdade e de democracia esclarecida. Tenho muito mais medo da sua ausência que da sua desmultiplicação e incontido avanço. Neste momento só os americanos é que são capazes de se auto-vigiar (e serem vigiados), como se vai provando pelas fotos de Abu Ghraib ou por qualquer outro local terrestre onde ponham os seus (manifestamente) incompetentes pés: só as imagens diárias dos massacres de Bagdad foram capazes de tornar urgente a invenção de uma solução para tão deplorável estado de coisas (solução que talvez não exista, mas isso é outra história que nós, os defensores da invasão, temos lidado pouco), estado de coisas esse que nunca antes sucedeu, nem quando, por exemplo, massacres idênticos se passavam a sul e a norte contra xiitas e kurdos no pós e pré Primeira Guerra do Golfo (se aquilo se chamou assim). E que falta hoje, por exemplo, ao Ex-Zaire, ao Sudão, ao Sri Lanka ou à Nigéria? para que a Esquerda anti-capitalista mundial se mobilize com a mesma energia e vigilância?

Vozes como as que se podem ouvir aqui em baixo, com a sua razão e os seus enganos e os seus truques e os seus tiques, são as que mais precisam de ser divulgadas: contra, principalmente, a desavergonhada falsa solidariedade e os milhares de especialistas em médio oriente que, pelo mundo inteiro, utilizam os palestinianos (povo por quem, aliás, nutro uma antipatia e aversão cada vez maior) para avançarem com a sua outra e verdadeira agenda.

Nada tenho contra as agendas escondidas. Eu tenho várias agendas escondidas. Estou convencido que todos temos agendas que não divulgamos. Mas as minhas agendas escondidas são pequeninas e, além do mais, mesquinhas, e, portanto, inócuas para o grande plano do universo. O que acho mal é dissimular preconceitos maiores que um defeito pessoal, como uma filosofia de vida ou desejo para o mundo. Isso acho deplorável e perigoso e pérfido. Enfim, isto levar-nos-ia longe, e não necessariamente onde quero chegar, que é ao...

...viva a América, viva o You Tube (que só poderia ter nascido na américa) e um muito obrigado ao JCD.

O vídeo está aqui.

segunda-feira, 26 de março de 2007

Até amanhã

Estamos a caminho de Badajoz.

Da Universidade do Minho

Olha, uma tuna.

João Soares

O maior português de sempre foi o meu pai. Ora aí está uma coisa que muitos nós pensamos mas temos pudor em reconhecer.

Inveja

Ia, que sapatos espectaculares da Clara Ferreira Alves.

O nosso provincianismo é achar que Salazar nos envergonha

«Amor carnal»

Agora é que o Hélder está a falar.

Mais cerca de dez minutos

Mais cerca de dez minutos, diz a Maria Elisa, porque depois os resultados têm de ser auditados. Caga na auditoria Maria, e mete já aí o D. Afonso na tela para a gente ir dormir. Lá em Santa Comba ninguém os ouve.

Amanhã

Quando o despertador tocar, vou amaldiçoar este programa.

Estou triste

Cortaram o piu ao Rosado Fernandes. Volta Raúl!

domingo, 25 de março de 2007

Momento Cristiano Ronaldo da noite

Zé Manel Barroso: «Se estamos a discutir os maiores portugueses, é porque existe Portugal! Se Camões e Pessoa escrevem em português, é porque existe Portugal! Se ontem vibrámos com a selecção nacional, é porque existe Portugal!»

Leonor, filha

Zara, Mango, H&M, etc... Vais ver que fazes a coisa por baratinho.

Por exemplo

O meu voto, o maior português de sempre, é o Calouste Gulbenkian.

Não é isso!

É que uma já perdeu a esperança (se alguma vez teve), enquanto a outra se acha (mesmo!) uma Catherine Deneuve lusa.

A Maria Elisa baralha-me, mas, sim, não vale a pena entrar em exageros: A Odete não se safava nem com o Pinto da Costa.

O tinto fala mais do que o lenço

A Mariana tenta convencer-me de que a Maria Elisa é mais feia do que a Odete Santos.

Disclaimer 2

Eu gosto muito do Jaime Nogueira Pinto*. Não me levem a mal.

* Bem como da sua mulher e do seu filho. É uma família que se recomenda. Mas o lenço...

O Jaime Nogueira Pinto

é um boneco, manipulado através de uma exibição ventíluqua magnífica. O cerébro ali é, claramente, o lenço.

O que é que está a foto do Sampaio ali a fazer?

Pergunta a Mariana. Não vi, estava a postar. Não acredito. Deve ser o vinho a falar.

Isto é quase melhor do que o aborto

E o Miguel, o Zé Diogo, o Tiago e o Ricardo têm o programa da semana feito.

A menina vereadora do Seixal (enfim, Seixal) a exibir-se como um belo leitor de cassetes

Acabou de dizer que Portugal é moderno por causa de Cunhal.

Mário Soares

Uma foto, grandiosa, imponente. Parece que o filho dele está na plateia.

A ideologia comunista

Velha???!!!!!!!!

É só atentar na frescura da Odete e na docilidade jovial dos adolescentes comunistas na plateia.

Clara Ferreira Alves

Sorri.
Ainda sem crer na parvoíce onde ora se encontra, nem em como nela tombou.

A vertente feminista da coisa não mais longe do que:

Maria Elisa informa que Vasco da Gama mandou açoitar mulheres que, clandestinamente, se infiltraram na nau.
O estafermo.

Mas a Ana Gomes diz que depois lhes deu um dote.
Ufa.

As coisas que a gente aprende nestes programas.

Pra calar o Hélder

Resta dizer, de Camões, que não chegou para o que foi. Grande como é, não passou do esboço de si próprio. (...) A epopeia que Camões escreveu pede que aguardemos a epopeia que ele não pode escrever. A maior coisa dele é o não ser grande bastante para os semideuses que celebrou.

Sobre Luís de Camões, Fernando Pessoa, 1924

Boooooooooooooooring

Estou a ficar um bocado farta disto. Tirem o micro ao Hélder.

O Maior Português de Sempre

Patrocínio Madame Tussaud.

A Leonor Pinhão acabou de perceber que tem a mesma opinião de Odete

E está à procura de um buraco onde se possa esconder.

Odete o perdigoto mutante Santos

Não resisti.

O maior português de sempre?

Raúl Rosado Fernandes. Mudo o meu voto.

Leonor Pinhão na pequena área

SLB! SLB! SLB!

760 10 2005

€60+IVA

Muito rápido, de preferência em 45 segundos:

Era bêbado, maluco e, pior de tudo, astrólogo.
Mas foi grande.
E nenhuma das suas características, por mais escabrosas que sejam, nos envergonham. Isto sim é ser grande. É ser maior. Podemos dizer o mesmo de todos os outros candidatos?

No dia 25 de Março, vote em consciência, vote em Álvaro de Campos.

Disclaimer

Estamos a escrever «em directo». Já detectámos um erro ortográfico. Mais virão.

Olha o Marcelo na TV. Já cá faltava.

Brilhante análise do Gonçalo Cadilhe.

Já ga-nhou! Já ga-nhou!

E ainda falta falar a Ana Gomes

Isto está a ser muito bom.

O lenço do Jaime Nogueira Pinto

Parece que tem vida, que quer sair dali para fora, que quer bater com a porta ao portas, assim como fez a Maria José.

Odete Santos fala

Leonor Pinhão ri.

Pára tudo!

Odete Santos (o que é aquela coisa branca? é o mal dos directos.)

Declaração de voto aqui da baixa - post escrito a quatro mãos

Se, por um daqueles artifícios cómodos, pelos quais simplificamos a realidade com o fito de a compreender, quisermos resumir numa síndroma o mal superior português, diremos que esse mal comsiste no provincianismo.

Fernando Pessoa, O Provincianismo Português, 1928, ali num livro que a Mariana foi buscar agora.

A patetice não conhece limites? #3

«O Camões dá para tudo.» Os olheiros do Benfica que ponham os olhos nisto.

A patetice não conhece limites? #2

Gosto particularmente das classificações na "categoria de génio".

"Vamos ver agora quanto é que os portugueses atribuem ao D. João II em génio", vocifera um tipo de mau aspecto, claramente underdressed.

Por falar nisso, o Portas está particularmente elegante esta noite.

Para facilitar, a via está aberta para a Mariana. O rosa é escolha dela. A garrafa de vinho já passou de meio. Isto também promete.

A patetice não conhece limites? #1

Maria Elisa rodeada dos 10 fantoches. Os «defensores» todos de tromba (exceptuando Rosado Fernandes, que parece estar a dormir). Os «direitos humanos» na apresentação de Cunhal; Pessoa escondia a depressão no «álcool»; Salazar era um tirano ainda vamos a tempo. Oh meu deus. Está ali o Daniel Oliveira, o outro. Isto promete.

Grandes frases da literatura portuguesa

«Aos 15 anos casei, sem saber fazer um cozido à portuguesa!»

Bertha Rosa-Limpo, no prefácio da 1ª edição d'O Livro de Pantagruel (1945)

Peço desculpa

A última frase do post imediatamente abaixo tem um «mas» a mais. Ou então, e era isso que estava previsto quando ele lá foi parar, deveria ter acabado de modo distinto: fazendo directa referência às outras feiras do livro usadas que também são más. Por exemplo: «Mas esta Feira do Livro Manuseado, que está ali na Praça da Figueira, conseguiu ser ainda pior do que aquilo que as minhas expectativas avisavam» (cá está a comparação: ainda pior). Ora bem, esta frase, apesar de igualmente infeliz, teria feito mais sentido, respeitando um bocadinho mais o leitor que está a perder o seu tempo num domingo para ler estas coisas e que, portanto, merece respeito e simpatia (como em sympathy). Acontece que me lembrei da piada dos pombos (não sei se repararam, o mais provável é não o terem feito, mas a referência ao «entretém» dos pombos era uma alusão ao cocó das referidas aves, já que me parece que elas se divertem muito ao defecar, enfim, não tenho futuro na comédia subtil) já a meio da frase, não tendo percebido que isso implicaria uma alteração do início da mesma. O correcto teria sido: «E esta Feira do Livro Manuseado, que está ali na Praça da Figueira, não é excepção: só serve mesmo como entretém dos pombos residentes» (enalteci a bold as alterações introduzidas, esta é a parte em que infantilizo o leitor, saudades das minhas professoras de português). Tentei, com este post, redimir-me dessa má frase que aniquila o fim do post, ou seja, que aniquila o post. É uma espécie de mea culpa exibicionista, admito. E totalmente desinteressante. Nem imagino o que levou alguém (olá) a chegar até aqui. Peço desculpa.

A ilusão neoliberal

Salazar e Hitler, de António Louçã; A Ilusão Neoliberal; Saramago e mais Saramago; História já não sei do quê, coordenação de Fernando Rosas. E, lá no meio, uma colectânea de crónicas da Leonor Pinhão, com um buraco circular de 3 centímetros de diâmetro da capa até quase meio do livro, à venda por 6,5€. Nunca vi uma boa feira do livro usado em Portugal. Os livros são sempre maus, desinteressantes, mal cuidados e estupidamente caros. Mas esta Feira do Livro Manuseado, que está ali na Praça da Figueira, só serve mesmo como entretém dos pombos residentes.

sábado, 24 de março de 2007

Extraordinaire



Não vi o jogo, estava num restaurante de sushi.

Extraordinaire, extraordinaire, foi o Nuno Gomes ter marcado um golo.

sexta-feira, 23 de março de 2007

Momento Medeia Card

Acredito que as estrelinhas dizem mais sobre o estado de espírito do espectador do que do filme em si (do do do, que mal escrito que isto está, graças a deus). É ver, a título exemplificativo, as estrelinhas do Pedro Mexia no Dn. Adiante. Isto para dizer que calhou gostar muito dos últimos três filmes que vi no cinema: O Bom Alemão, O Véu Pintado, e (punch line) Music and Lyrics, um comédia romântica (1) com Hugh Grant (2) e Drew Barrymore (3). Armado em crítico de bancada, reservo-me o direito a um instante marcelino: O Bom Alemão - ****, O Véu Pintado - **** (a lembrar-me que tenho de voltar a ler o bom do Somerset), Music and Lyrics - ***. Isto até é giro.

(A diferença entre as 4 e as 3 estrelinhas pode bem residir no pormenor de que Drew Barrymore não é nem Cate Blanchett nem Naomi Watts. É mais feia. Feiazinha, coitadinha. Mas é mais bem paga, segundo consta, e é americana, tem aquele sotaque - atentem ao sotaque da Cate Blanchett ou da Naomi Watts. E feiosa.)

E, subitamente, respeito pelos belgas

Leio a notícia sobre as agressões por parte de elementos da comitiva belga a jornalistas desportivos portugueses com um misto de admiração e inveja.

quinta-feira, 22 de março de 2007

Manuel Vicente: Caressing Trivia



Não conheço nada do livro, acabei de descobri-lo completamente por acaso (obrigado google), mas, como é descaradamente óbvio, vai fazer-me sacar do cartão, o sacana do Eric K C Lye (um obrigado para ti também, Eric). Do João fico à espera de um agradecimento público.

Lisboa

Hoje, quando cheguei à plataforma de espera da estação da Baixa-Chiado, como habitualmente, reparei num homem, velho, sentado com alguma dignidade, de perna cruzada, naqueles bancos forrados a pedra preta corrida que contrasta com o branco vidrado que inunda toda a estação. Vestia um fato, cinzento, grosso, meio desprocupado mas muito arrumado. Pela pose, pela roupa, pela calma atenta como olhava o metro à hora de ponta percebia-se um modo de estar de outra época, outro tempo. De alguma maneira, e isso é um choque, ele é de facto de outro tempo, que já passou. Não que isso seja um juízo de valor, é apenas uma constatação cronológica. Esse tempo, o dele, que nós conhecemos tão bem, foi de facto o dele, por onde ele passou e deixou marca. Fez parte de uma revolução, mais barulhenta que tranquila, que podemos ver espalhada pelo país. Ainda trabalha, julgo, não sei dizer de cor, mas os seus dias já passaram, já faz parte, e bem, da História. Hoje quase que vi na sua cara essa sensação de dever cumprido. Estava sentado à espera do metro, como todos os outros, o Nuno Teotónio Pereira.

SACRAMENTUM CARITATIS, ponto 62

(...) A fim de exprimir melhor a unidade e a universalidade da Igreja, quero recomendar o que foi sugerido pelo Sínodo dos Bispos, em sintonia com as directrizes do Concílio Vaticano II: exceptuando as leituras, a homilia e a oração dos fiéis, é bom que tais celebrações sejam em língua latina; sejam igualmente recitadas em latim as orações mais conhecidas da tradição da Igreja e, eventualmente, entoadas algumas partes em canto gregoriano. A nível geral, peço que os futuros sacerdotes sejam preparados, desde o tempo do seminário, para compreender e celebrar a Santa Missa em latim, bem como para usar textos latinos e entoar o canto gregoriano; nem se transcure a possibilidade de formar os próprios fiéis para saberem, em latim, as orações mais comuns e cantarem, em gregoriano, determinadas partes da liturgia. (...)

Não é má interpretação, não é sequer uma interpretação. É apenas um trecho (acusem-me de descontextualização) do ponto 62 da Exortação Aportólica Pós-Sinodal Sacramentum Caritatis De Sua Santidade Bento XVI Ao Episcopado, Ao Clero, Às Pessoas Consagradas E Aos Fiéis Leigos Sobre A Eucaristia Fonte E Ápice Da Vida E Da Missão Da Igreja. Como me é dirigida expressamente, eu fico triste. Mas não me surpreende, Bento XVI não deixou de ser Joseph Ratzinger, nem isso lhe poderá ser exigido. Aguentemos.

quarta-feira, 21 de março de 2007

Londres 5 - O gilberto e o jorge

Este post é só mesmo para guardar o lugar, um post-it, para falar da exposição do gilberto e do jorge que está na Tate Modern, anunciada como a exposição do ano em Londres, ou lá o que é. Não sei o que vos diga. Ainda.

Londres 4 - Shevchenko e Wright-Phillips

terça-feira, 20 de março de 2007

Londres 3 - Richard Schiff's Underneath the Lintel



Quando dois incondicionais fãs do West Wing, sobretudo da personagem Toby Ziegler (aka sósia de Pacheco Pereira, footnote para um post posterior), vêem Richard Schiff anunciado num folheto turístico, não há grande margem para hesitações. Corremos, quase literalmente, para o Duchess Theatre, na Catherine Street, ali à esquerda no fim da Strand de quem vai para poente, e lá largámos as mínimas 20 libras para ver o monólogo Underneath the Lintel, de Glen Berger. Perante a nossa hesitação quanto à qualidade dos lugares, o senhor da bilheteira não nos tentou vender um lugar melhor, coisa que estranhámos mas percebemos ao chegar mais tarde à hora certa: a galeria superior estaria fechada nessa noite, e teríamos direito a um upgrade dos lugares. Bilhete de 20 libras, lugar de 40, e os britânicos cada vez mais a subir na minha estima. Quanto à peça: trata de um monólogo sobre um bibliotecário que nos conta a história da sua contínua destruição psicológica na obsessiva procura da identidade daquele que devolveu um livro com 113 anos de atraso, que às tantas percebemos ser o judeu errante (cá está o Pacheco Pereira outra vez). A interpretação é boa, é muito boa, sendo que o texto não é brilhante. O que não interessou aos dois fãs do West Wing, de todo, que teriam puxado da carteira até para ver o Toby Ziegler a interpretar La Feria.

Londres 2 - lugares onde se pode respirar

Gostámos muito desta Waterstone's.

segunda-feira, 19 de março de 2007

Londres 1 - o trabalho

À conversa com um casal amigo, ambos arquitectos, ambos sem experiência de trabalho em Lisboa (nunca viram um recibo verde), às tantas ela mostra a sua incompreensão pelo facto de nem os arquitectos nem os advogados em Portugal terem contrato de trabalho. Porquê?, pergunta, sem ver uma razão imediatamente óbvia para a flagrante omissão. Explico que um contrato implica 14 meses de salário (ainda que isso seja apenas um pormenor, ou se divide por 12 ou por 14, vai dar ao mesmo) e, mais importante, uma indemnização em caso de despedimento. Ah, exclama a minha amiga expatriada, aqui é só necessário um aviso com um mês de antecedência. Podes sair de um emprego na sexta, acrescenta ele, e entrar noutro na segunda. Pergunto-lhes se trabalham muito, ou muitas horas, ou se há um lado negativo da coisa. Não, respondem, entramos às 9, saímos às 5.30. Pedimos para repetir, julgando ter ouvido mal. Às vezes chego um pouco mais cedo, se for preciso, diz ela, mas nesses dias já não saio às 5.30, saio mais cedo. Como se vê, um sistema neo-liberal que não protege os trabalhadores conduz a uma exploração da classe braçal por parte do patronato poderoso. É por isso que aqui em Lisboa estamos cheios de imigrantes britânicos, sequiosos de justiça social e carvalhos da silva diligentemente robin dos bosquescos. Progresso, portanto.

Entre outras coisas, 4 contos por um bilhete de cinema

Back from London. Seguir-se-á um período monotemático (mas não monocromático, como Londres) neste blogue.

A minha mulher diz que Londres é como o sushi: parece que toda a gente tem de gostar. Mas ao contrário do sushi, ela não é grande fã de Londres. Percebo-a, mas ainda assim prefiro Londres a sushi. Volto para tentar explicar.

quinta-feira, 15 de março de 2007

O maior português

Na impossibilidade de fazer os nossos críticos compreender, tentemos ao menos levá-los a fingir que compreendem.

Álvaro de Campos, de uma carta para o Diário de Notícias (1915)

Parece-me óbvio que o maior português de sempre foi Álvaro de Campos.

quarta-feira, 14 de março de 2007

ministra



Confirma-se a saída de Paolo Pinamonti do São Carlos, por incompetência do Ministério da Cultura. Para quem só agora chegou ao assunto, leia-se o comentário de Jorge Calado no Expresso de sábado último: Pinamonti transformou o São Carlos numa referência europeia. O actual ministério da cultura (o melhor mesmo é passar a escrevê-lo com minúscula) discorda. Acha que (...) o Teatro de S. Carlos deve servir para os cantores portugueses rodarem e para os turistas terem ópera à disposição em Lisboa (...). Durante quanto tempo mais teremos de aturar Isabel Pires de Lima mais o seu penteado?

terça-feira, 13 de março de 2007

Breves

Recomendam-se todas, mas fica aqui a nota para a conversa entre o Francisco José Viegas e o Pedro Mexia, a propósito do Prova de Vida.

O Vasco Barreto voltou ao Memória Inventada um, o que prova que ainda lhe sobra algum discernimento.

O AdolfoMesquita Nunes citou-me o texto do sushi; amigos (aqui o plural é figura de estilo) enviaram-me emails solidários; até a minha mãe me telefonou. Caros, há uma associação das vítimas do sushi a ser criada.

O Tiago Galvão não escreve desde 24 de Fevereiro. Querem ver que arranjou mulher?

segunda-feira, 12 de março de 2007

Desenho

Aqui fica um esquisso que fiz ontem, já ao final do dia:



Esperam que percebam o absurdo que foi terem acreditado, ainda que a custo, admito, que a autoria deste desenho me pertencia. É por estas e por outras que a arte contemporânea está como está, e que nós estamos como estamos. Já não conseguimos reconhecer um Leonardo da Vinci mesmo à frente do nosso nariz. Tende vergonha.

Sempre são 50.000 euros

Entretanto, o Prémio Secil foi entregue, pela terceira vez, a Siza Vieira. Bocejo.

domingo, 11 de março de 2007

Sushi babe

Quando apontaram para a pequena rodela multicolor e disseram «isto é bom, é com delícias do mar e manga», percebi que estava no sítio errado. Aliás, isso foi apenas a gota de água. A verdade é que sempre que vou a um restaurante de sushi sinto-me um peixe fora de água. Agora é moda, é bem, é chique, é moderno, é jovem. O sushi está por todo o lado, em qualquer evento social que se preze, com as suas algas, as suas papas verdes picantes (por Deus que aquilo sabe a Sonasol), o seu peixe cru. O peixe cru até é a única coisa que se safa, sobretudo os gordos, sobretudo o atum, mas mesmo quando seguro o nacozinho de atum entre os meus pauzinhos (hão-de ter um nome qualquer japonês, os cabrões), não deixo de imaginar uma bela grelha em brasa onde o poisaria por uns breves minutos. Sushi não é comida, é entretém. Em Portugal a coisa é mais grave: anos e anos a apurar a mil e uma maneiras de cozinhar o peixe, o nosso bom peixe, para vir agora um bando de brasileiros impingir-nos com o seu sushi elaborado, as suas postas cortadas a frio e enroladas em arroz húmido e algas pretas. O peixe? Oh, variedade: atum, salmão, e o meu favorito «peixe branco». Mas o que é um «peixe branco»? Bacalhau? Adiante. É moda. Como qualquer moda, não faz sentido e é impossível de combater. É uma maré pesadíssima de pessoas bonitas a exclamar «adoro sushi, adoro sushi» a investir contra nós, coitados, impotentes que ficamos a sonhar com o belo do robalo grelhado, regado a azeite, acompanhado por pimentos grelhados e batata cozida, salada de tomate e cebola, vinho branco, sol. E eles continuam, «adoro sushi, adoro sushi», para cima de nós, sem perceber que estão apenas a um passo do ridículo daquele senhor da margem sul que apareceu ontem no Expresso, vestido de preto, com uma saia preta, cabelo comprido e de guitarra ao vento, que fundou a primeira banda portuguesa de rock japonês. Aposto que o Luís Marques do Fogueteiro também gosta de sushi.

No comboio com o Francisco José Viegas

(...) Sei que vou estar no comboio que partiu atrasado. A culpa não é só minha. É da minha Europa do sul, dos nossos hábitos incivilizados, da alimentação, do hábito de comer peixe, da nostalgia da sesta, da sombra dos jardins, da saudade que -- todo o ano -- tenho da praia, do queijo de São Jorge, da velocidade a que conduzo o carro. E é da preguiça, também. Às vezes parece-me congénita, mas só me culpo a mim. Vivi lá fora, sei que há diferenças; mas aquele discurso sobre «o modelo finlandês» é-me cada vez mais estranho, nunca vi que os meus conhecidos de Helsínquia ou de Rovaniemi ou de Turku fossem especialmente felizes ou, para ser sincero, mais felizes do que nós. Mesmo os hábitos de leitura na Islândia; invejo-os para nós, mas sei que anoitece cedo em Reykjavík (as livrarias são a última coisa a fechar no centro da cidade) e que, há uns anos, só se podia beber álcool ao fim-de-semana. Nós habituámo-nos a contar anedotas sobre o Salazar, a contar anedotas sobre o Samora, a rir das tragédias. Às vezes chego atrasado a uma reunião e peço desculpa, mas não devia. Não devia chegar atrasado, não devia sair da sala para fumar, não devia estar a meio da reunião a imaginar a cataplana de bacalhau. Não devia deixar para o dia seguinte. Não devia estar o ano inteiro à espera da praia. O discurso dos modernos é confrangedor, de qualquer modo, quando nos imaginam -- a todos -- a seguir o modelo finlandês. O milagre irlandês deixa-me indiferente, depois de ver que Dublin, a minha Dublin, se tornou irreconhecível, uma espécie de pesadelo de ficção científica, britanizada. Irrita-me a falta de cuidado, a falta de trabalho sério, a falta de respeito pelas leis, a facilidade com que se desculpa a preguiça. Mas sou preguiçoso, também. Tenho uma carga da velha Europa do Sul por todo o lado. Participei em muitas reuniões de uma multinacional para quem trabalhei durante década e meia. Eles eram ricos, poderosos, tomavam decisões, marcavam reuniões para o pequeno-almoço, às sete da manhã. Nós íamos, mas não estávamos felizes. (...)

A questão europeia, n'A Origem das Espécies

sábado, 10 de março de 2007

Uma espécie de previsão meteorológica ao contrário

Para quem não reparou: hoje esteve um dia glorioso em Lisboa.

sexta-feira, 9 de março de 2007

É 1,25€ e ainda traz um jornal agarrado

Obrigatória a crónica de hoje de Vasco Pulido Valente, sobre a RTP.

Marcha lenta

É muito complicado circular no passeio público à hora do almoço. São aglomerados de seres humanos em marcha lenta que entopem as vias de circulação, sempre aos pares, aos trios, aos quartetos, orquestras inteiras de almoçantes que esticam até à última, sempre em marcha lenta, a sua hora de almoço, como se protestassem, logo hoje que é sexta-feira tarde de sol, contra o facto de terem de trabalhar para ganhar o seu, os 22 dias de férias, os décimos quartos, as baixas psiquiátricas passadas no Brasil para arejar, o chefe que a sabe toda e que chega sempre depois deles, zelosos, na internet o dia todo a ver os jornais desportivos, pisgando-se logo que batem as cinco ou seis da tarde, em ponto, e a gloriosa uma da tarde para comer, a refeição encomendada no restaurante do costume às onze da manhã, quando se interrompeu a fastidiosa hora e meia de intenso labor para se ir ao café, refeição essa que é sempre tomada sentada, bem regada, sobremesa e tudo, porque em alturas de crise há que aproveitar aquilo que é bom na vida, como o bitoque e o cartão de crédito, as férias na neve e a Sporttv, que foi desviada pelo primo que é informático e conhece um tipo que arranja os descodificadores a 75 euros, livres de impostos, os sacanas, que a fonte nos retém sem misericórdia, sem graça nenhuma e portanto inventam-se as graças à hora do almoço, badalhoco-machistas quando o grupo é de homens, em marcha lenta, ainda e sempre, comentando a gaja da capa da FHM, a gaja que se comeu ontem à saída Lux, a gaja nova do marketing, ou intrigazinhas repetitivas quando o grupo é de mulheres, todas gordas, baixinhas, resingonas, com uma mala que lhes custou metade do ordenado de fevereiro mas estava numa promoção irresistível, todos falam, comentando as notícias do dia do Destak, esse jornal que é muito bom e pôs toda a gente a ler, que fez descobrir a desde sempre reprimida voracidade dos portugueses pela leitura, é vê-los no metro cada um com o seu, todos lêem, todos ocupam o seu espaço no passeio, em bloco, em marcha lenta, em protesto contra isto que está muito mal.

Mini-teste

Estime, com base na imagem que se segue, o resultado do jogo de futebol ocorrido ontem entre o Sport Lisboa e Benfica e o Paris Saint Germain, em Paris, a contar para a primeira eliminatória dos oitavos de final da Taça Uefa.

quinta-feira, 8 de março de 2007

Ah, bom

E ao sétimo dia, ele voltou.

Eu ainda vi o maradona escrever

maradona vintage 2007, aqui em cópia integral, porque sabemos que a erosão costeira do A Causa Foi Modificada é manifestamente mais acelerada do que a blogoesfera média:

Uma pessoa fica doente (a 8.03.07)

Joana Amaral Dias republicou um texto que Rui Tavares terá feito sair no Público. Enfim, já se sabe e o problema será sempre o mesmo. Um pequeno apontamento de reportagem, dado que o assunto em si está muito para além do irresponsável eixo ideológico Helena Matos - Rui Taveres:

"Mas porque para confirmar a subida das águas dos mares à escala global basta consultar fotos aéreas das costas oceânicas, algumas delas em áreas sem construções da África ou da América do Sul."

Ai sim? É extraordinário que no texto se repita duas ou três vezes a expressão "Qualquer cientista aprendiz". Não quero ser mauzinho, por isso não vou comentar como me apetece. Mas a verdade é que o descuido e a preguiça em locais de responsabilidade e sobre assuntos importantes deixam-me fora de mim. Uma pessoa já está habituada à facilidade de pensamento da professora doutora joana amaral dias, mas ao Rui Tavares uma pessoa deseja sempre mais.

O que qualquer "cientista aprendiz" diz a Rui Tavares é que se os mecanismos tectónicos (como o de 1755) parassem por uns poucos (muito poucos, até) milhões de anos todo o planeta seria um único mar com belo fundo de areia. Nem um continente nem uma ilha restariam. E porquê? Porque, como o Rui Tavares pode verificar num dia destes que vá ao Guincho, o mar bate sem parar nas arribas e nas praias e, a bem dizer, no que quer que se lhe oponha. É assim, naturalmente, com CO2 ou sem CO2, com subida do mar ou sem subida do mar. Aliás, o nivel do mar poderia estar a baixar que a erosão costeira manter-se-ia e a tendência geral de desaparecimento das plataformas continentais num mar azul com areia no fundo não se alteraria minimamente (apenas o seu periodo temporal, e mesmo este, não sei se muito significativamente).

As fotos a que o Rui Tavares se refere na América do Sul ou em Àfrica (mas ele podia ter-se referido à Costa Vicentina) são imagens que mostram o efeito de fenómenos que ocorreriam com ou sem aumento do nível médio do mar. Não "basta consultar fotos aéreas" coisíssima nenhuma, é preciso perceber isto, caralhos ma´fodam. Uma pessoa dá essa merda no oitavo ano de escolaridade na disciplina de Ciências da Natureza (que espero que ainda exista), cona da mana, não foi preciso ir para sedimentologias e geomorfologias e mais não sei o quê para aprender isso. Porque é que o Rui Tavares não sabe isso? Acha que as arribas de Sagres não recuaram entre o ano 1755 e o ano 1900? Um dia mostro-lhe umas estimativas da professora Adelaide.

E a Costa da Caparica, também referida pelo Rui Tavares, que dizer? Para falar sobre isso não deveria o Rui Tavares saber que há menos de uma centena de anos o mar, ano sim ano não, entrava periodicamente pelo cordão dunar adentro até mesmo à base da arriba (hoje a quase um quilómetro da linha de costa - é a descida do nivel m+édio dos mares!), o que significaria, nos dias que correm, o alagamento total da povoação da Costa da Caparica (que era o que, de facto, acontecia... e que só se tornou dramático porque as casas passaram a ser construidas para durarem décadas em vez de meia duzia de anos).

Quanto muito, - e aqui ponho no terreno toda a minha simpatia -, o que, eventualmente, interessaria para esta questão era saber de uma eventual aceleração positiva da velocidade de erosão. E essa aceleração não é, com certeza, detetável por "fotos aéreas". Até a Fátima Campos Ferreira percebe isto: a erosão costeira é um fenómeno permanente e inexorável, sendo que a variação da sua intensidade será cientificamente acessivel apenas através de factores de extrapolação (como por exemplo a medição directa da subida no nivel medio das aguas dos oceanos), e nunca através da observação de todos aéreas.

E se se continuar a falar de "aceleração" da erosão, então, e para quem não queira acreditar no caralho da subida do nivel médio dos oceanos (também há destes por aí), põe à frente do Rui Tavares fotos de certas partes da península italiana, que, ui ui ui, tem vindo a, como dizer, deserodir-se: ali a plataforma continental está a subir... o mar a bater-lhe todos os dias na linha de costa, o mar, valha-me deus, a subir dramaticamente, num toma toma toma incessante, e mesmo assim a linha de costa está a ganhar terreno ao mar!, e uma coisa a um ritmo detectável historicamente, visivel até nos registos históricos que são a vida do Rui Tavares.

O que Helena Matos e Rui Tavares andam a fazer é, no fundo, a tratar de destruir metodicamente qualquer partícula de seriedade pública neste assunto. Como cada um é mais ideologicamente apegado que o outro à sua moral, tudo o que lhes sirva -mesmo que distantemente - para a puta da metaforazinha sobre os tempos em que vivemos é uma arma considerada válida.

Para uns a temperatura não está a subir e os mares não estão a subir. Para outros isto para o ano estamos com mais 20 graus em cima e já não existirão continentes. Cada um pega nos seus cientismos de eleição: Um nevão na Arábia Saudita desmente o aquecimento global. Um verão seco confirma-o.

E agora há esta nova fase, que é a dos que, como Rui Tavares e a Joana Amral Dias hoje, desbocam babuseiras sem sentido e que, no fundo, só tornam a vida fácil a quem tem tão maus instintos como eles (mas do lado contrário).

Mas vamos ser justos. O Rui Tavares não está a querer discutir os problemas levantados pela erosão costeira ou as chatices (inúmeras, como inúmeras são as chatices que resultarão do combate a estas chatices - e esta é a discussão importante, não outra qualquer) que as alterações químicas na atmosfera nos vão, inevitavelmnete, trazer. Está num programa lá dele. Por isso se pode dar ao luxo de ser impreciso, ilógico, desinformado, óbvio, simples e irresponsável nas matérias de facto (em si, de facto, pouco importantes para o campeonato do Rui Tavares está a querer jogar nesta crónica).

Em concreto, Rui Tavares estava a querer despachar um texto com a dificultosíssima (ironia de que Rui Tavares se tentou safar com uma - muito a propósito - confissão preemptiva) tarefa de assinalar as diferenças entre Al Gore e as excplicações moralo-geológicas de um padre do sec XVIII, às quais, segundo parece, Helena Matos se referiu.

Podia te-lo feito (até porque, palpita-me, era merecido) sem desinformar o inocente.

Chega a ser ridículo pensar que

Tenho escrito pouco. E não é o «trabalho», essa desculpa esfarrapada que qualquer blogger dá quando não escreve (ainda que neste caso seja verdade, verdade que tenha muito «trabalho», mentira o facto de que é isso que me tem impedido de escrever), mas sim este livro o culpado:



É que uma pessoa lê isto, julga que tem alguma coisa digna de ser passada a escrito, abre a página do Blogger, lembra-se do que leu há minutos, olha outra vez para o dashboard, e nesse momento percebe que a única coisa que lhe resta é desistir. Vencida e humildemente desistir. Chega a ser ridículo.

P.S: Também ando a ler um biografia do Da Vinci, só para verem o calibre do menino que aqui está. São 5 centímetros de lombada, a um ritmo de 3, 4 páginas por dia. Vergai-vos.

Tenho carradas de coisas para dizer

Ontem, por exemplo, cruzei-me com um homem daltónico.

quarta-feira, 7 de março de 2007

Em vez de se ficar pelos especialistas

Mesmo muito a correr porque a sopa está a esfriar (depois explico). No site da Trienal de Lisboa noticia-se a conferência de imprensa de apresentação do evento, com o título envolver a população, com José Mateus a descrever assim a coisa: «Um acontecimento que quer ter impacto junto das pessoas, em vez de se ficar pelos especialistas, e que quer dar a conhecer a arquitectura de Portugal (...)». No entanto, na notícia imediatamente precedente, levantam-se algumas luzes sobre as conferências que já aqui mencionei (Zaha Hadid na Trienal): ficamos a saber que decorrerão no Teatro Camões e que a inscrição custará 250 euros para arquitectos e 150 euros para arquitectos estagiários e estudantes*. Ponto. E preços para a população que se quer envolvida? Ah, coerência.

P.S: E que preços são estes? 250 euros? Num país onde a maioria dos arquitectos
(já não sei quantos por cento) ganha menos de 1000 euros mensais, não vejo como vai a Ordem dos Arquitectos encher os 800 lugares. Só se convidar muita gente...

segunda-feira, 5 de março de 2007

domingo, 4 de março de 2007

Postais de NY (1)



Brooklyn Bridge, a 02.12.06