segunda-feira, 19 de março de 2007

Londres 1 - o trabalho

À conversa com um casal amigo, ambos arquitectos, ambos sem experiência de trabalho em Lisboa (nunca viram um recibo verde), às tantas ela mostra a sua incompreensão pelo facto de nem os arquitectos nem os advogados em Portugal terem contrato de trabalho. Porquê?, pergunta, sem ver uma razão imediatamente óbvia para a flagrante omissão. Explico que um contrato implica 14 meses de salário (ainda que isso seja apenas um pormenor, ou se divide por 12 ou por 14, vai dar ao mesmo) e, mais importante, uma indemnização em caso de despedimento. Ah, exclama a minha amiga expatriada, aqui é só necessário um aviso com um mês de antecedência. Podes sair de um emprego na sexta, acrescenta ele, e entrar noutro na segunda. Pergunto-lhes se trabalham muito, ou muitas horas, ou se há um lado negativo da coisa. Não, respondem, entramos às 9, saímos às 5.30. Pedimos para repetir, julgando ter ouvido mal. Às vezes chego um pouco mais cedo, se for preciso, diz ela, mas nesses dias já não saio às 5.30, saio mais cedo. Como se vê, um sistema neo-liberal que não protege os trabalhadores conduz a uma exploração da classe braçal por parte do patronato poderoso. É por isso que aqui em Lisboa estamos cheios de imigrantes britânicos, sequiosos de justiça social e carvalhos da silva diligentemente robin dos bosquescos. Progresso, portanto.