quarta-feira, 25 de abril de 2007

25 de Abril de 1974

O 25 de Abril não me desperta nenhuma comoção. Esclareço: reconheço que pertenço a uma geração «sem memória», historicamente niilista, essas coisas todas. Esta minha indiferença baseia-se naquilo que vejo à nossa volta. Fica-se com a sensação que a democracia era inevitável (como o prova o desenrolar da revolução). Esta sensação de inevitabilidade fragiliza a mitologia da «manhã da Abril», inserida na história de um modo muito pacífico e pouco sangrento. Sei que devo esta minha indiferença ao 25 de Novembro, sei que «isto» só é uma democracia porque Soares percebeu e agiu a tempo. O 25 de Abril é uma data bonita, é uma data simpática, mas muito pouco histórica. Gostamos de pensar nela de um modo romântico, sob as palavras de Sophia, com flores e tudo. Mas não tenho especial vontade em partilhar esse romantismo. E não sinto o peso do politicamente correcto a obrigar-me a escrever alguma coisa com a palavra «Liberdade» lá inserida. O 25 de Abril foi importante, Soares foi importante, a CEE foi decisiva. O velho caiu da cadeira, o povo saiu à rua. Por eles, por aqueles que esperaram esse dia, paro um segundo. E sei que o 25 de Abril é deles, não meu. Reconheço a minha ingratidão, sei que eles o fizeram por mim e todos os ainda não nascidos. Foi um dia bonito. Não choveu.