segunda-feira, 28 de fevereiro de 2005
Óscares
domingo, 27 de fevereiro de 2005
A falácia de Sontag
«(...)None of us can every retrieve that innocence before all theory when art knew no need to justify itself, when one did not ask of a work of art what it said because one knew (or thought one knew) what it did.(...)A interpretação é entendida como um fenómeno que pretende re-significar a obra de arte. Construir à volta dela um discurso e um conjunto de considerações que a valorizam e enquadram. É algo que Sontag acredita estar a deturpar a relação obra-espectador. Nós, qualquer um, perdemos a inocência original («(...) The earliest experience of art must have been that it was incantatory, magical (...)»). Estamos mais cínicos e analíticos, menos emotivos. A arte já não emociona, mas antes desperta o intelecto. Sontag não gosta disso. E decreta guerra à interpretação.
Este raciocínio, muito apelativo, baseia-se numa falácia.
Voltemos à frase que citei em cima. Sontag diz que antes da teoria nós não perguntávamos o que a arte queria dizer porque sabíamos (ou julgávamos saber) o que ela fazia. Este fazer é a provocação de uma reacção na nossa pessoa, algo instintivo e, portanto, anterior à análise. Uma reacção inconsciente provocada directamente pela obra de arte. Mas creio que aqui é que está o erro: o que a arte (nos) faz varia de pessoa para pessoa. E isso está relacionado com o que sabemos. Por isso a posição de Sontag é uma pescadinha de rabo na boca: quer separar duas coisas que não são separáveis. A resposta emotiva a um determinado evento parte do nosso próprio contexto cultural. Não é honesto estar a retirar ao intelectual (ou connoisseur) a capacidade de se emocionar com a arte só porque este não é inocente face a ela. Por outras palavras, a nossa reacção nunca é totalmente ingénua, está sempre intimamente ligada à memória. Essa memória está carregada de informação e conhecimento.
Não sei se estou a fazer muito sentido. Mas sinto que a sedução deste statement de Sontag nasce desta quase impossibilidade de ser verdade. Poderemos nós descartar por completo a teoria da arte em nome de uma inocência original? Acredito que não. Não devido a um qualquer preconceito, mas porque a separação (total) entre emoção e razão não existe. Pelo menos no ser humano.
Madrid 6
Estava tão fascinado a andar de um lado para o outro que vi a Guernica como se de outro quadro qualquer se tratasse. Talvez porque tenha perdido essa componente de transressão e se tenha tornado num produto de exportação nacional, abraçada pela "instituição". Não falo do quadro em si, mas do que o quadro representa. E não é tão fácil assim separar as duas.
Madrid 5
Madrid 4
Madrid 3
Madrid 2
Madrid 1
sexta-feira, 25 de fevereiro de 2005
quinta-feira, 24 de fevereiro de 2005
Greenpeace
quarta-feira, 23 de fevereiro de 2005
«resposta sensorial»
P.S: A expressão «positivamente agredido» faz-me lembrar uma discussão (também ela dos primóridos da blogosfera) sobre a violência, tema lançado pelo Pedro Jordão.
Precisa-se
terça-feira, 22 de fevereiro de 2005
Conservadorismo
Eduardo Souto Moura, in NU #01, entrevista republicada no Epiderme Extra
Vistas bem as coisas faz sentido que a arquitectura portuguesa seja comunista. A interpretação destes conceitos é claramente abusiva e redutora. Mas olhemos para o panorama nacional, para a produção arquitectónica até à geração de 50, aquela que tinha trinta anos no 25 de Abril. As referências estéticas, se quisermos, são homogéneas. Há um silêncio instalado, uma reverência por natureza. O social, sempre o social, como motor de todas as pesquisas e transformações. Mas, que transformações? Sempre houve (até essa geração, note-se) um sentido de colectivo na arquitectura portuguesa (ou melhor, na arquitectura feita em Portugal por portugueses). Uma aceitação geral que o público prevalece sobre o privado, e que havia uma maneira de fazer as coisas. Aqueles que escapam a esta lógica não encontram, naturalmente, condições para se exprimirem. A emigração é uma hipótese, talvez a única hipótese de se poder fazer diferente. Manuel Vicente e Pancho Guedes, por exemplo. Os outros, com Siza no Porto e Teotónio em Lisboa, vão, acima de tudo, dando continuidade, com pouco atrevimento e muito respeito. Quer isto dizer que a qualidade foi afectada? Não, apenas quer dizer que a quantidade foi afectada. Não a quantidade de produção, mas a enumeração de vários estilos ou vários modos de fazer. Uma grande unidade formal, muito coerente, muito conservadora. O moderno, o Moderno, sempre vingou em Portugal, nunca morreu, só timidamente deixou entrar o pós-modernismo. Percebe-se: o Moderno é o símbolo da ditadura formal em prol da revolução social. São os 5 pontos de Corbusier, é a Carta de Atenas. O pós-moderno é o liberalismo encantado com o capitalismo. É a côr, a forma, a diferença, a multiplicidade. Produzirá melhor arquitectura?
(continua)
Luz que vem de dentro
Para iluminar alguma coisa, ou apenas para dizer que brilha? Se eu aí estivesse sentiria a luz. Estando aqui resta(-te) o brilho e saber que é assim que te imagino. O tipo de luz que não projecta sombra, antes torna tudo mais claro. E realça as cores, que afinam o seu contraste. Tudo tem ar de novidade, apesar de já ter passado algum tempo. Para ser franco, nem sei quanto tempo passou. Não o conto, não o meço. Sinto que passa, percebo que passa, mas nada envelhece. Tal e qual o primeiro dia, o dia da revelação.
Sintomas
segunda-feira, 21 de fevereiro de 2005
A revolta silenciosa
Um pequena mudança (ou virança, segundo Ana Drago)
Primeira promessa de Sócrates que gostava de ver cumprida
Ouvi Sócrates repetir isto algumas vezes. Estou à espera (nomeadamente da lei das rendas, por enquanto suspensa).
Como já deu para ver ainda não consegui expurgar a política deste blogue. Mas continuo a tentar.
O lado positivo da coisa
Achei curiosa uma certa linguagem de rixa usada ontem por alguns dos vencedores. Algumas pessoas do PCP falaram em «correr» com a direita. O Bloco de Esquerda, pela voz da Ana Drago, declarou que um dos seus objectivos sempre foi infligir à direita uma «derrota histórica» e nunca vista. Toda a noite se ouviram os verbos «humilhar», «arrasar», «massacrar». Não sei como é possível, numa democracia, ficar contente por «humilhar» ou «massacrar» um adversário político. A magnanimidade na vitória não é mesmo para todos.
O modelo nórdico
Num dos tradicionais modelos socialistas europeus - a Dinamarca - foi recentemente reconduzido um governo de centro direita, com reiterado apoio popular. A Dinarmaca é actualmente a economia mais saudável do mundo, a sociedade mais justa do mundo - uma lição. E nós ainda andamos a brincar às "revoluções" e às esquerdas ditas modernas. Que triste complexo de esquerda que nunca mais morre.
Este blogue
Os jovens
O que eu gostava de ver
Sócrates
domingo, 20 de fevereiro de 2005
Santana não se demite
Alguém percebeu? Convoca o congresso para se candidatar? Convoca o congresso para passar o testemunho? Quer ganhar o congresso? Alguém percebeu?
Portas
Entretanto na vizinha Espanha
Lamentável
O que eu quero ver agora 5
O que eu quero ver agora 4
Mais a frio
1. Sócrates ganhou 9 em cada 10 votos do "centro".
2. Santana Lopes esvaziou o PSD.
3. O CDS caiu redondamente. Terá tido, dos 8.7% dos votos das últimas eleições, 4 ou 5%. Os votos restantes vêm de descontentes do PSD.
4. A CDU ganhou a aposta Jerónimo. Jerónimo é o PCP, e o PCP é fiel.
5. O Bloco de Esquerda ganhou muitos votos ao PS.
6. Jorge Sampaio ficará na história de Portugal. Por todas as más razões. Rui Ramos tem razão: Sampaio, com a dissolução de uma maioria parlamentar, mudou o sistema. Se Cavaco ganhar as próximas presidenciais, quem lhe negará legitimidade de mandar Sócrates para casa?
Arafat
Sinto-me um actor de revista
Obrigado António Guterres
Dia vinte de fevereiro
sábado, 19 de fevereiro de 2005
Million Dollar Baby
Fiquei surpreendido com a prestação de Clint Eastwood como actor. O resto não me surprendeu, ia preparado para a excelência. E não é um filme sobre boxe.
O prazer é todo meu
sexta-feira, 18 de fevereiro de 2005
Pois, pois, pois, pois...
maradona
Isto hoje vai para record de posts
Domingo no Iraque
(...)
Isto, e, sobretudo, a formidável campanha internacional dos meios de comunicação europeus embebidos de ódio aos Estados Unidos, tinham conseguido persuadir uma percentagem importante da opinião pública de que a intervenção militar no Iraque era um fracasso absoluto, e, além disso, uma operação contraproducente que, em vez de desembocar numa democratização do país, incendiaria todo o Médio Oriente, deixando-o à mercê dos fanáticos fundamentalistas anti-ocidentais. (...) Toda a Europa do ressentimento e da nostalgia da evaporada resolução saiu para as ruas a festejar esta oferta dos deuses.
(...)
Quase 60% dos inscritos, uma participação cívica extraordinária, comparada inclusivamente com as democracias mais avançadas, algo que consolida de maneira retumbante os actos eleitorais iraquianos. E, também, mostra como são enganosas e mequinhas aquelas argúcias dos culturalistas, segundo os quais é abusivo e prepotente "impor" uma democracia à ocidental a uma sociedade cuja cultura a repudia intrinsecamente porque vai contra práticas, usos e crenças arreigadas às quais aquela não poderia renunciar sem perder em "identidade". E esses racistas consideram-se progressistas! Não percebem sequer que a sua noção de identidade colectiva é um campo de concentração que condena um povo inteiro a não progredir jamais, a eternizar-se no obscurantismo e na barbárie. (...)»
E continua.
Mário Vargas Llosa, in DNa, 18.Fev.2004
quinta-feira, 17 de fevereiro de 2005
The Friendly Alien
P.S: Descobri agora que o edifício fez parte da Graz 2003 - Capital Europeia da Cultura. O que também explica muita coisa.
A insónia inútil
quarta-feira, 16 de fevereiro de 2005
É preciso corrigir porque o erro é crasso e enganador
terça-feira, 15 de fevereiro de 2005
Querida,
P.S: Este post não é sobre política.
Chateia-me é estar a escrever isto hoje (escrevo segunda à noite) mas tem de ser, é apenas uma coincidência infeliz
segunda-feira, 14 de fevereiro de 2005
Não há coincidências
Interpretem este post como quiserem. Eu sei que não sei como interpretá-lo.
sábado, 12 de fevereiro de 2005
A divulgação da crítica
O que toca num problema crucial para a crítica de arquitectura em Portugal. É que crítica e proselitismo não andam juntos. Enquanto falar de arquitectura nos jornais, em Portugal, for entendido como uma "missão" - e é - dificilmente a crítica levanta voo. Também por isso, por cima deste dilema por agora insuperável, este é um belo livro e um belo projecto para Portugal.»
Voltar a Acreditar, Jorge Figueira, Mil Folhas 12.02.05
Não dá para perceber se é propositado ou não, mas Jorge Figueira escolhe para título de crónica um slogan político (neste caso, ainda que irrelevante, slogan usado pelo Partido Socialista). Escreve sobre o mais recente livro de Manuel Graça Dias, "30 Exemplos (Arquitectura Portuguesa no Virar do Século XX)", colectânea dos seus artigos publicados no Expresso entre 2001 e 2004, que já tinha referido aqui. O que me dá um óptimo pretexto para (não) falar de política. Nos blogues, como na generalidade dos media, o período de campanha eleitoral arrasa qualquer tentativa de manter um discurso sereno sobre outro assunto (mais) civilizado. Tenho resistido a isso, embora sinta que me faltam interlocutores. Mas vamos ao artigo de Jorge Figueira (e a Graça Dias). Figueira baralha e volta a dar com este título. Lembra, ironicamente, que não é na política nem nos políticos que devemos voltar a acreditar, mas em algo bem mais importante e estruturante da nossa vida moderna: a arquitectura (e o seu contexto cultural).
Pacheco Pereira escreveu, há um tempo, no Abrupto uma nota que desde aí nunca mais me esqueci:
«É isto a cultura: uma invenção da imaginação humana, contra natura, contra o terror, contra o caos, por uma ordem superior feita de um teatro de convenções simbólicas que nos protegem, e que são a civilização. Tudo muito frágil, tudo construído, tudo inventado, tudo quase no limiar de nada. (...) A cultura é uma frágil defesa, mas existe. Está ali, em pedra, símbolo de obediência do homem a convenções abstractas que ele criou e que só existem quando há vontade que existam. Nada depende mais da vontade do que a cultura e a civilização. Somos nós que as fazemos, somos nós que as desfazemos.»
Seduz(iu)-me a facilidade com que se pode fazer a transposição destas palavras para a arquitectura. Ver a arquitectura como actor previligiado no cenário cultural é uma esperança que alimento mas que, inevitavelmente, sofre várias vezes de períodos de desânimo pois é «(t)udo muito frágil, tudo construído, tudo inventado, tudo quase no limiar de nada.» Por isso me interesso tanto pela crítica cultural, em especial pela crítica de arquitectura. Porque só aí, só nas palavras escritas, se pode testar a validade cultural da arquitectura. E é a partir dessa validade cultural que se pode exigir uma educação do povo nesta área, ou seja, transformar a arquitectura num tema contemporâneo e presente.
É isso que Graça Dias consegue fazer. Jorge Figueira diz que há quem veja os textos de Graça Dias agora reunidos mais como divulgação e não tanto como crítica, para depois defender que não concorda, categorizando-os como verdadeira crítica. Percebo esta hesitação. De facto, e porque Graça Dias escolhe para objecto de crítica exemplos que passaram a priori pelo «juízo de aceitação», a prosa apresentada parece ser dirigida especialmente a quem ainda não experimentou as obras mencionadas. Ou seja, Graça Dias dá claramente a primazia à divulgação do tema escolhido. Mas é no modo como o faz que se encontram as razões para definir os textos como crítica. Claro que seria preferível ter, em Portugal, um universo crítico mais maduro, mais instalado, que permitisse a existência de críticas negativas, de divergências claras sobre as opções arquitectónicas. Como isso não acontece a crítica vê-se na missão de dizer bem, correndo o risco de perder acutilância e pertinência, ou de ser catalogada de corporativismo (Graça Dias é também arquitecto). Aliás, algumas das obras analisadas corporificam um mapa de referências arquitectónicas que são bem distantes das que são patentes nas obras de Graça Dias. Não há nesses casos (Souto Moura e Carrilho da Graça, para dar dois exemplos de arquitectos que Graça Dias publicamente admira) partilha de causas comuns que permitissem, à partida, uma crítica de aceitação fácil. Como realça Jorge Figueira, a crítica de Graça Dias não passa pela erudição do especialista ou pelo facilitismo da identificação das influências, nem sequer por mapeamento nacional e internacional da arquitectura apresentada. O que Graça Dias faz é ver com olhos de ver, tão ingénuos quanto possível. Ou seja, coloca-se na pele do transeunte (leitor) que se interroga sobre um objecto, um edifício, um acontecimento novo. Começa quase do zero. E ao fazê-lo justifica a arquitectura, valida-a. Prova a sua vitória e a sua importância. Educa o (nosso) olhar.
Vejo agora neste título de Jorge Figueira, Voltar a Acreditar, uma referência ao período Moderno (do Estilo Internacional de Philip Johnson). Então acreditava-se no poder salvífico da arquitectura (crença aliada a utopias socialistas, está certo). Essa crença foi mais tarde substituída por um cinismo pós-moderno que, talvez mais por consequência do que por intenção, acabou por afastar a arquitectura da sociedade, tornando-a elitista. O que Graça Dias tenta fazer é voltar a criar uma (necessária) empatia entre (todos) nós e a (boa) arquitectura. É uma tarefa ingrata.
sexta-feira, 11 de fevereiro de 2005
Cultura
Convém dizer que nessa matéria a divisão entre esquerda e direita nem sempre é apenas ideológica. É também de gosto. Sei que generalizo, mas conheço o quintal a direita (a direita política) não se interessa pela cultura. Assim, é natural que prefira o consensual Mosteiro dos Jerónimos aos perigosos Artistas Unidos. A esquerda, pelo contrário, sempre se interessou muito pela cultura. Mas os políticos de esquerda gostam demasiado da cultura como forma de legitimação, e dão o cavaco por uma corte de artistas agradecidos e serviçais. Ora espreitem os tempos de antena. (...)»
Pedro Mexia, DN 11.02.05
No atelier do Gonçalo Byrne trabalham 10 pessoas
quinta-feira, 10 de fevereiro de 2005
A diferença
«Berlim congela salários da função pública
Os funcionários públicos da Alemanha terão os seus salários congelados e serão pagos de acordo com a sua produtividade, depois de ontem o Governo e os sindicatos terem chegado a acordo.(...)»
No dia em que em Portugal o Governo e os sindicatos concordarem em ver os salários dos funcionários públicos dependentes da sua produtividade saberei que vivo num país mais saudável.
quarta-feira, 9 de fevereiro de 2005
O que eu ando a ler, o que eu ando a ler
«He had already realized that intelligence was just the word people used for stupid remarks that were well presented and prettily pronounced, and that intelligence itself was so corrupt, there was often more to be gained from being dumb than from being a sworn intellectual. Intelligence makes you unhappy, lonely, and poor, whereas disguinsing it offers a the possibility of immortality in the newsprint and the admiration of those who believe what they read.»
Martin Page, How I became stupid ("Comment je suis devenu stupide")
Zapping de lombadas
Tem toda a razão. Assumo-me e não dou aso a boatos. Sou um produto da sociedade mediatizada. Sou um filho da tevê, da net, do sms. A minha concentração tem a duração de 160 caracteres ou de 30 segundos de rodapé. Faço zapping, constante zapping. Faço zapping nos livros, nas revistas, nos filmes. Faço zapping de lombadas, leio todas as primeiras frases e aborreço-me nas segundas. Tenho a profundidade intelectual de um José Sócrates, só para citar um exemplo. Reconheço que sou um falhanço. Penitência, meus amigos, é o que devo fazer. Começou a Quaresma: quero ser diferente, quero levar o sexo até ao fim. Os livros, quero dizer.
Closer
O filme não vale. Não cola, faz muito pouco sentido. Mas tem a força dos momentos isolados, dos cortes no tempo, das situações criadas. Tudo muda em cada fade out. Se faz sentido ou não que mude assim parece pouco interessar. Interessa sim colocar cada personagem em situações extremas, testá-las, ver se dobram ou se quebram. Natalie Portman foi nomeada. Percebo. Mas o que me prendeu foi este olhar de Julia Roberts, absolutamente perdido. O momento do filme: quando, depois da sympathy fuck com Clive Owen no consultório, Julia (Anna) solta um sorriso. Nesse sorriso cabe toda a fragilidade de quem há muito desistiu de ser feliz. Que se vê neste olhar, que não se interessa por nada. É uma ironia, construída à volta da profissão da personagem, fotógrafa. Antes, Alice (Natalie Portman) descrevera a exposição de Anna como uma mentira, rostos de estranhos atormentados e sós que, pela arte da fotografia, se mostravam belos. E se esvaziavam de drama, de conteúdo, de vida. A objectiva de Anna roubava a vida aos fotografados, mas sem dar por isso roubara também a sua própria paixão. Sobrou o cinismo e a culpa.
terça-feira, 8 de fevereiro de 2005
Assim à primeira vista acho que não concordo, não sei, parece-me um bocado, como dizer, disparatado
João César das Neves
Tenho que começar a ler mais depressa
Post em construção. Vou almoçar. Já cá volto.
Posts que melhoram algumas vidas
in Esplanar
segunda-feira, 7 de fevereiro de 2005
O Triunfo do Objecto Genérico
Prova de contacto
A rotunda da Boavista, o Porto, Portugal; nada dizem à Casa da Música. «Nosso só os pretos», dizia quem nos guiava, sem que isso denotasse qualquer racismo de pacotilha, «os pretos, quer dizer, a malta que cá trabalha». Se por intenção ou por mera teimosia, a Casa da Música pertence à OMA e só por acaso se viu plantada naquele lote da cidade invicta. Os materiais vêm de todo o lado: Holanda, Alemanha, França, Espanha, até da Jordânia. Sim, o travertino da praça exterior vem da Jordânia, «uma bela merda de pedra, não vale nada». Há muito para onde apontar o dedo nesta obra excessiva. O arquitecto quis muita coisa que não se entende. Mas também quis as paredes inclinadas, que enche de brilho os olhos do construtor, que apregoa emocionado «isto é o melhor betão que já vi na vida». Toda a obra é um acontecimento excepcional e excessivo, ou excessivamente excepcional, ou mesmo excepcionalmente excessivo. À pergunta se isto se justifica só se pode (depois da visita) responder com um rotundo sim. Preparem-se: entrar na Casa da Música não será uma experiência fácil de esquecer. Neste canto do mundo Koolhaas venceu; a sua cidade genérica tem ali um fragmento decisivo.
P.S: Na Casa da Música aprendi uma nova expressão: pladur à vista.
domingo, 6 de fevereiro de 2005
Beleza de leste (ou como interessar os jovens pela política)
Yulia Timoshenko, recém nomeada Chefe do Governo da Ucrânia
sexta-feira, 4 de fevereiro de 2005
Vou viver
Por enquanto, estou suspenso.
quinta-feira, 3 de fevereiro de 2005
O que é a arquitectura? - 1
O Pedro não gosta da definição de arquitectura como "a arte de fechar o espaço". «Misturar arte e clausura deixa-me desconfortável», afirma. Assumo que o Pedro se refere ao que escrevi. Por isso devo corrigir. O que escrevi foi que a arquitectura (é) o modo como o Homem decide encerrar o espaço.
Como considero que esta é, de todas as tentativas já realizadas, a melhor definição da coisa que encontrei, prossigo para uma explicação.
Em primeiro lugar esta frase, de modo algum, relaciona a arte com clausura. Clausura é algo que carrega uma conotação bastante mais forte do que o simples gesto de encerrar o espaço. E além disso penso que a palavra chave desta afirmção é o «decide». Vamos a isto.
A matéria prima da arquitectura é o espaço. Não deve haver outra palavra mais vezes referida quando se fala ou escreve sobre arquitectura. Claro que esta situação só se verifica depois do modernismo. E, apesar da tentativa de Kenneth Frampton em reescrever a História da arquitectura do século XX como a História da Construção, considero que é uma assunção correcta. Parece pacífico relacionar directamente arquitectura com espaço. Importa agora definir qual a natureza dessa relação.
O espaço é infinito. O espaço, dito assim, não tem limites. É isso que o define: a ausência de limites. Podemos dizer que o espaço natural, intocado pelo homem, não conhece fronteiras. É algo abstracto que o Homem pateticamente tenta resumir num sistema de coordenadas em 3 eixos. É frequente haver a associação do espaço com vazio. É esta a minha interpretação da palavra. Posto isto, como se pode definir a arquitectura como sendo uma actividade que tem por matéria-prima de eleição este conceito de espaço?
É frequente dizer-se que o primeiro gesto arquitectónico da História foi a escolha de uma caverna por parte do, e chamemos-lhe assim, primeiro arquitecto. Ele (e a sua tribo) não se davam bem com a imensidão do espaço que o rodeava: era algo que não conseguia controlar e o expunha a todo o tipo de perigos. Perante isto, a sua decisão (cá está a palavar chave) foi procurar um local onde o espaço estivesse claramente encerrado. A caverna garantia-lhe isso: há uma entrada, uma fronteira, que pode ser controlada e usada para definir uma diferença espacial entre o dentro e o fora. Não houve desenho, não houve planeamento, não houve construção. Estas 3 palavras são exemplos dos conceitos que se procuram frequentemente para definir a arquitectura. Contudo constata-se que a arquitectura não precisa deles para se definir. Pode haver arquitectura sem desenho, sem planeamento, ou sem construção.
quarta-feira, 2 de fevereiro de 2005
Mailbox: Os valores e a religião
Arroz de Estragão