quarta-feira, 9 de fevereiro de 2005

Closer



O filme não vale. Não cola, faz muito pouco sentido. Mas tem a força dos momentos isolados, dos cortes no tempo, das situações criadas. Tudo muda em cada fade out. Se faz sentido ou não que mude assim parece pouco interessar. Interessa sim colocar cada personagem em situações extremas, testá-las, ver se dobram ou se quebram. Natalie Portman foi nomeada. Percebo. Mas o que me prendeu foi este olhar de Julia Roberts, absolutamente perdido. O momento do filme: quando, depois da sympathy fuck com Clive Owen no consultório, Julia (Anna) solta um sorriso. Nesse sorriso cabe toda a fragilidade de quem há muito desistiu de ser feliz. Que se vê neste olhar, que não se interessa por nada. É uma ironia, construída à volta da profissão da personagem, fotógrafa. Antes, Alice (Natalie Portman) descrevera a exposição de Anna como uma mentira, rostos de estranhos atormentados e sós que, pela arte da fotografia, se mostravam belos. E se esvaziavam de drama, de conteúdo, de vida. A objectiva de Anna roubava a vida aos fotografados, mas sem dar por isso roubara também a sua própria paixão. Sobrou o cinismo e a culpa.