segunda-feira, 7 de fevereiro de 2005

O Triunfo do Objecto Genérico



Prova de contacto

A rotunda da Boavista, o Porto, Portugal; nada dizem à Casa da Música. «Nosso só os pretos», dizia quem nos guiava, sem que isso denotasse qualquer racismo de pacotilha, «os pretos, quer dizer, a malta que cá trabalha». Se por intenção ou por mera teimosia, a Casa da Música pertence à OMA e só por acaso se viu plantada naquele lote da cidade invicta. Os materiais vêm de todo o lado: Holanda, Alemanha, França, Espanha, até da Jordânia. Sim, o travertino da praça exterior vem da Jordânia, «uma bela merda de pedra, não vale nada». Há muito para onde apontar o dedo nesta obra excessiva. O arquitecto quis muita coisa que não se entende. Mas também quis as paredes inclinadas, que enche de brilho os olhos do construtor, que apregoa emocionado «isto é o melhor betão que já vi na vida». Toda a obra é um acontecimento excepcional e excessivo, ou excessivamente excepcional, ou mesmo excepcionalmente excessivo. À pergunta se isto se justifica só se pode (depois da visita) responder com um rotundo sim. Preparem-se: entrar na Casa da Música não será uma experiência fácil de esquecer. Neste canto do mundo Koolhaas venceu; a sua cidade genérica tem ali um fragmento decisivo.

P.S: Na Casa da Música aprendi uma nova expressão: pladur à vista.