terça-feira, 22 de fevereiro de 2005

Conservadorismo

Porque, de resto, as casas que vêm desde a Mesopotâmia são iguais às do Mies van der Rohe. Muros de tijolo, com pátios, tal, tal, adobes, entra-se, não sei quê, casas romanas, são iguais às que eu vi na China e iguais às casas no Alentejo. Maior ou mais pequeno. Um portão, um pátio que distribui serviços, o patrão, a parte agrícola, por aí fora. As casas-galeria... Portanto, eu acho que as pessoas não vivem de maneiras muito diferentes.

Eduardo Souto Moura, in NU #01, entrevista republicada no Epiderme Extra

Vistas bem as coisas faz sentido que a arquitectura portuguesa seja comunista. A interpretação destes conceitos é claramente abusiva e redutora. Mas olhemos para o panorama nacional, para a produção arquitectónica até à geração de 50, aquela que tinha trinta anos no 25 de Abril. As referências estéticas, se quisermos, são homogéneas. Há um silêncio instalado, uma reverência por natureza. O social, sempre o social, como motor de todas as pesquisas e transformações. Mas, que transformações? Sempre houve (até essa geração, note-se) um sentido de colectivo na arquitectura portuguesa (ou melhor, na arquitectura feita em Portugal por portugueses). Uma aceitação geral que o público prevalece sobre o privado, e que havia uma maneira de fazer as coisas. Aqueles que escapam a esta lógica não encontram, naturalmente, condições para se exprimirem. A emigração é uma hipótese, talvez a única hipótese de se poder fazer diferente. Manuel Vicente e Pancho Guedes, por exemplo. Os outros, com Siza no Porto e Teotónio em Lisboa, vão, acima de tudo, dando continuidade, com pouco atrevimento e muito respeito. Quer isto dizer que a qualidade foi afectada? Não, apenas quer dizer que a quantidade foi afectada. Não a quantidade de produção, mas a enumeração de vários estilos ou vários modos de fazer. Uma grande unidade formal, muito coerente, muito conservadora. O moderno, o Moderno, sempre vingou em Portugal, nunca morreu, só timidamente deixou entrar o pós-modernismo. Percebe-se: o Moderno é o símbolo da ditadura formal em prol da revolução social. São os 5 pontos de Corbusier, é a Carta de Atenas. O pós-moderno é o liberalismo encantado com o capitalismo. É a côr, a forma, a diferença, a multiplicidade. Produzirá melhor arquitectura?

(continua)