sexta-feira, 15 de junho de 2007

Fragmentos ao almoço (1)

(...) está expressamente na concordata de 1929 (...)

(Dois indivíduos, 30 a 40 anos, de fato escuro e gravata)

Durante o meu curto trajecto na via pública à hora do almoço tenho vindo a aguçar um gosto por captar pedaços de conversa entre transeuntes que circulam na mesma direcção da minha, mas no sentido contrário. Tem sido uma experiência que se tem revelado bastante mais frutífera do que à primeira vista se podia esperar. Não consigo apanhar mais do que pedaços de frases ou expressões, dado que ando depressa e não alimento um espírito cusco: não me interessa aquilo sobre que conversam os meus colegas de passeio, mas apenas a linguagem e as palavras desprovidas de contextualização, apesar de achar importante que se diga quem as disse, numa descrição breve que visa enquadrar a sua idade e aparente colocação social. Esta é uma série cujo período de vida se espera extenso. O título poderá sofrer uma alteração nestes primeiros momentos se me ocorrer algo melhor (sugestões serão bem-vindas para o email acima.)

P.S: Esta primeira recolha revelou-se particularmente feliz. Segundo a Wikipedia, a concordata de 1929 ficou mais conhecida como o Tratado de Latrão, onde se fez o reconhecimento oficial por parte da Itália do Estado do Vaticano, bem como o inverso em relação ao facto de Roma ser a capital de Itália. Mais importante do que isto, lembro-me de um post do Pedro Mexia sobre uma personagem no Snob que terá soltado veementemente a exclamação «Mas se eu te estou a dizer que foi no Concílio de Latrão, caralho!». Enfim, entre o (último) Concílio de Latrão e o Tratado de Latrão medeiam 412 anos, pelo que fica afastada a hipótese de um dos meus transeuntes ser o frequentador do Snob do Pedro Mexia, mas fica-se com a impressão de que há demasiada gente em Lisboa a falar de Latrão. E deixo a minha palavra de honra de que não inventei nada disto.