Há sempre aquele momento em que o intelectualzinho chomskiano, que consome clichés sofisticados como outros consomem couratos, diz com estardalhaço: «esta merda qualquer dia rebenta». Aquilo a que ele chama com olhos esbugalhados «esta merda» é a democracia capitalista. A esperança em que «esta merda» rebente é o seu único oxigénio. O chomskiano de Sacavém está impaciente por que «esta merda» vá pelos ares, esta «democracia formal» e esta «ditadura do mercado», quanto mais não seja para vingar os enxovalhos que os seus regimes favoritos sofreram. Já só lhe resta o galhardo coronel Chávez, ao chomskiano de calça curta, e na impossibildade de termos um aqui («até o Otelo já é empresário»), ele espera pacientemente que «esta merda» expluda. Todas as coisas más que acontecem são coisas boas que se anunciam, porque, naturalmente, a culpa de tudo é «desta merda» e os amanhãs já gorjeiam no olho remeloso do chomskiano. Um mundo que começará quando «os culpados desta merda» forem finalmente «responsabilizados» pelos seus «crimes contra a humanidade». Muito gosta este politólogo manhoso de poesia e de fuzis.
Pedro Mexia